Cinema

Água Negra

Á Negra
Título original: Dark Water
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 105 min.
Gênero: Terror
Diretor: Walter Salles (Central do Brasil, Abril Despedaçado, Diários de Motocicleta)
Trilha Sonora: Angelo Badalamenti (O Sacrifício, Amor Extremo, Código de Sangue)
Elenco: Jennifer Connelly, Ariel Gade, John C. Reilly, Tim Roth, Pete Postlethwaite, Dougray Scott, Camryn Manheim, Perla Haney-Jardine, Elina Löwensohn, Debra Monk, Linda Emond, Bill Buell, J.R. Horne, Kate Hewlett
Distribuidora do DVD: Buena Vista Home Entertainment
Avaliação: 7/10

Revisto em DVD em 2-SET-2007, Domingo

Eis um trabalho subestimado por muitos, e que merece mais respeito do que tem.

Percebe-se pelos depoimentos dos extras do DVD de Água Negra que havia sim um sentimento de valorização dos envolvidos em relação ao filme, que desde que foi lançado estava estigmatizado pela sombra dos inúmeros remakes de obras de horror japonesas. A seu favor conta a sutileza do drama psicológico, a sábia decisão de não suscitar sustos com base em efeitos especiais e a ótima ambientação lúgubre. Em contrapartida, se a história soa lenta demais e não consegue empolgar muito, é preciso dizer que o filme vale a pena somente pelo elenco talentoso, que se entrega a um trabalho de horror atípico e, exatamente por isso, digno de uma conferida.

Os extras incluem um making-of de 16 minutos, um especial de 7 minutos sobre o processo de edição de som do filme, outro de 25 minutos sobre todos os principais profissionais envolvidos na produção, duas rápidas cenas excluídas, uma cena alternativa, as análises de três cenas sob o ponto de vista da equipe de edição e os trailers de Gol!, A Luta pela Esperança, De Repente É Amor, O Guia do Mochileiro das Galáxias e Sin City, exibidos durante a inicialização do DVD.

Texto postado por Kollision em 29/Agosto/2005:

Não há dúvidas de que a carreira do diretor Walter Salles sempre foi ascendente. A indicação para o Oscar de melhor filme estrangeiro para Central do Brasil e os elogios ao seu Diários de Motocicleta atestam isso. Neste ritmo, era natural que muita gente se indagasse quando Salles se renderia à tentação de fazer um filme por um grande estúdio, dirigindo um elenco completamente americano e com uma história falada em inglês. A escolha do diretor, que segundo o próprio baseou-se na relação entre a mãe e a filha da história de Água Negra, causou estranhamento por parte da crítica mais especializada, já que a obra consiste de mais uma refilmagem de um recente sucesso do horror japonês, lançado em 2002 e feito pela mesma equipe de criadores responsável pelo seminal Ring - O Chamado (Hideo Nakata, 1998).

Jennifer Connelly é Dahlia, uma mãe recém-divorciada que se muda com a filha Cecilia (Ariel Gade) para um complexo de prédios de baixa renda no subúrbio de Nova Jersey. Além de lidar com a agressividade do marido (Dougray Scott) durante o processo da separação, ela logo descobre que seu novo apartamento apresenta vários problemas, sendo o mais estranho deles uma enorme goteira em seu quarto, de onde escorre uma água de coloração negra. Quando sua filha começa a exteriorizar uma relação com uma amiguinha imaginária e coisas estranhas passam a acontecer, Dahlia vê os fantasmas de seu passado ressurgirem com força total, o que desencadeia um mistério que as envolve de forma cada vez mais sobrenatural.

Água Negra é um filme de horror que sofre de um problema algo incomum. Como espetáculo cinematográfico, é muito bem construído e fotografado. No entanto, a sombra de uma outra criação do horror japonês também adaptada para o ocidente (O Chamado e O Chamado 2) paira sobre o filme de Walter Salles de forma inclemente. As similaridades entre as duas histórias devem-se obviamente à mente criadora de ambas, o escritor Kôji Suzuki, e podem frustrar quem espera algo diferente do que já foi estabelecido como padrão para remakes de exemplares do horror oriental.

Dito isso, é preciso esclarecer que o filme tem seus méritos. Um deles foi a capacidade que Salles teve de reunir uma equipe de primeira para seu projeto, iniciando pelo elenco que inclui, além de Jennifer Connelly, os versatéis John C. Reilly e Tim Roth, este último no papel de um advogado prestativo e solitário que vive de aparências. Connelly ganha uma parceira à altura na pele da garotinha Ariel Gade, que está uma graça no papel de sua filha. A trilha sonora de Angelo Badalamenti é muito boa, assim como o trabalho de fotografia que valoriza o aspecto depressivo do local onde a história se passa. A chuva incessante que parece ser um personagem extra ajuda neste ponto, numa obra conduzida de forma bastante cadenciada que literalmente 'goteja' água por todos os poros.

Além de alguns sustos e momentos de tensão eficientes, há uma boa ênfase no lado do horror psicológico, inserido na trama por meio da relação traumática entre Dahlia e sua mãe. O roteiro faz um pouco de confusão, mas consegue estabelecer em alguns momentos uma dúvida que incomoda: se as percepções da mãe desesperada têm mesmo fundamento ou não passam de meros devaneios de uma mente perturbada. As semelhanças com O Chamado chegam até mesmo à estrutura do desfecho da história, mas em Água Negra houve um cuidado maior ao se amarrar todas as pontas soltas, o que vem também com um epílogo bonitinho mas um pouco desnecessário.