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Filmes Vistos em Janeiro - Parte 2

72 Horas (Paul Haggis, 2010) 8/10

Com: Russell Crowe, Elizabeth Banks, Olivia Wilde, Brian Dennehy, Lennie James

As provas contra uma mulher acusada de assassinato (Elizabeth Banks) são irrefutáveis, e ela se vê cada vez mais perto da prisão perpétua. Passado o choque inicial, seu marido (Russell Crowe), professor de uma escola comunitária, contempla a possibilidade antes irreal de tirá-la de dentro da prisão de segurança máxima, concebendo cuidadosamente um plano que tem pouquíssimas chances de ser bem-sucedido. O título 72 Horas faz alusão aos três dias que antecedem a execução deste plano. Dividido em dois grandes atos, o filme é uma mistura de drama e suspense que não se apressa em construir uma caracterização forte para os personagens e seus medos, fazendo questão de mostrar que o homem por trás do plano de fuga é um cara comum, e não um expert como dá a entender o trailer (a participação de Liam Neeson é absolutamente pontual). Crowe tem a credibilidade certa para encarnar o papel, já que consegue demonstrar uma determinação que nunca abandona a necessária vulnerabilidade que a história pede. A dúvida quanto à inocência de Elizabeth Banks nunca é completamente esclarecida até determinado ponto, o que dá uma dimensão a mais à cruzada do protagonista e aos atos de desespero que ele se propõe a realizar. Todo o elenco está ótimo, do moleque que faz o filho do casal aos policiais responsáveis por capturá-lo. É verdade que 72 Horas tem sua parcela de passagens mirabolantes, mas não cheguei a notar nada que ferisse a lógica de forma absurda. Dentro dos longas de perseguição recentes, o filme rende um sólido passatempo.

O Estripador de Nova York (Lucio Fulci, 1982) 8/10

Com: Jack Hedley, Paolo Malco, Almanta Suska, Alexandra Delli Colli, Andrea Occhipinti

Um homem brinca com seu cão próximo a um píer em Nova York. O cachorro vai e vem buscando uma bola, até que chega o momento em que ele traz uma mão humana em estado de avançada putrefação. Este é o início de um dos melhores trabalhos do italiano Lucio Fulci, um giallo extremamente envolvente apesar das várias passagens sem pé nem cabeça. O responsável por tentar encontrar o tal estripador é um detetive antipático (Jack Hedley) que em determinado momento convoca a ajuda de um doutor em psicologia (Paolo Malco). Uma das características mais marcantes do filme é a voz do assassino, que fala sempre como se fosse o Pato Donald, mas há vários outros fatores que se destacam. Um deles é o desfile de belas mulheres que se convertem em vítimas, outro é a agressividade e a crueza com que Fulci filma as cenas de violência, responsáveis pela pesada censura que o longa sofreu ao longo dos anos em vários países. A caracterização eficiente de personagens e a narrativa dinâmica se sobrepõem à falta de lógica de muitas passagens (como o assassino sabe onde o detetive está para importuná-lo via telefone?), fazendo de O Estripador de Nova York um dos cruzamentos mais bem-sucedidos entre o giallo e o sexploitation sob um ponto de vista estritamente estético.

Colheita Maldita (Fritz Kiersch, 1984) 3/10

Com: Peter Horton, Linda Hamilton, John Franklin, Courtney Gains, R.G. Armstrong

Fonte farta de material para filmes de horror, a obra de Stephen King nunca foi lá muito bem em suas adaptações cinematográficas. Colheita Maldita faz parte da baciada podre. Creio que o motivo do sucesso mediano que o filme conseguiu nos anos 80 tem a ver com o conceito e o tratamento visual dado ao material de divulgação, que evocava uma atmosfera macabra sem no entanto revelar muito do que se tratava a história. Nela, um casal em viagem (Peter Horton e Linda Hamilton) atropela uma criança ao dirigir por uma rodovia cercada por um imenso milharal. Em busca de ajuda, eles acabam chegando a uma cidade-fantasma aparentemente dominada por crianças, que escondem um segredo terrível associado às plantações de milho da região. A premissa, interessante, é diluída num roteiro que não sabe o que fazer para caracterizar as crianças más de forma convincente. Tirando o moleque sinistro que faz o líder espiritual da gurizada (John Franklin), o resto das interpretações é ruim de doer - Isaac só se salva porque seu papel pedia por um óbvio exagero. Situações ridículas e sem sentido se alternam com efeitos especiais vagabundos, culminando num final vergonhosamente tosco. Colheita Maldita envelheceu terrivelmente, mas a carga de nostalgia e o punhado de continuações me deixa curioso em saber como a história prosseguiu na sequência, lançada em 1992.

Assédio Sexual (Barry Levinson, 1994) 8/10

Com: Michael Douglas, Demi Moore, Donald Sutherland, Caroline Goodall, Dylan Baker

Parte da safra de filmes que sinalizou a retirada de Demi Moore dos holofotes hollywoodianos, Assédio Sexual é também um de seus melhores trabalhos. A moça apronta o inferno na vida do executivo de uma empresa de informática (Michael Douglas), primeiro ao surrupiar sua promoção e depois ao acusá-lo de assédio quando, na verdade, quem assediou foi ela, e de forma nada inocente. É impossível não proferir várias interjeições de espanto acompanhadas por algo como "vagabunda!" ao vê-la em ação. Mas calma lá, isso decorre da atitude da moça após o encontro tórrido dos dois, e não durante (sob uma ótica feminista, há implicações mais pertinentes na história). O filme é bastante envolvente, e hoje ganha uma relevância inusitada por ter sido produzido antes do estouro da era digital moderna e por traçar um cenário hipotético para o que estava por vir na época. Todo o elenco está muito bem, até Michael Douglas, que corria sério risco de se estereotipar devido aos sucessos anteriores de Atração Fatal e Instinto Selvagem. Ou talvez seja mesmo culpa do apelativo título brasileiro do filme, que nada tem a ver com o título original e passa uma ideia errada do romance de Michael Crichton, no qual o longa é baseado.

As Viagens de Gulliver (Rob Letterman, 2010) 4/10

Com: Jack Black, Chris O'Dowd, Jason Segel, Emily Blunt, Amanda Peet

A mais nova adaptação cinematográfica para o livro clássico de Jonathan Swift é aquilo que eu mais ou menos esperava: outro veículo para Jack Black fazer o mesmo personagem de sempre, ou seja, o tipo desleixado-engraçado imortalizado pelo próprio em filmes como Escola do Rock. Ele é Gulliver, um cara estagnado num emprego cômodo que passa o dia entregando cartas no prédio de um jornal e jogando Guitar Hero nas horas vagas (precisava disso?). Pressionado pela chegada de um concorrente e desesperado para impressionar uma colega (Amanda Peet, radiante), Gulliver se oferece para escrever sobre o Triângulo das Bermudas. Chegando lá, ele é sugado para uma terra desconhecida habitada por pessoas de somente 15cm de altura e governada por duas nações em guerra. Gulliver se passa por rei e conquista a admiração de todos, com exceção de um general desconfiado (Chris O'Dowd) que irá causar problemas. Quando funcionam, os efeitos especiais são ótimos, mas não é sempre que eles convencem. De resto, As Viagens de Gulliver é um filme infantilizado e até enfadonho, que abusa de referências ao universo pop para tentar fazer rir. Mas é por causa de gente como Amanda Peet e Chris O'Dowd que o longa mantém uma certa dignidade como diversão pra lá de rasteira, porque ver Jack Black fazendo o mesmo personagem pela décima vez já perdeu a graça.

.Com para Morrer (Andrew Van Slee, 2003) 4/10

Com: C. Thomas Howell, Monique Demers, Sam Ball, Marina Sirtis, Lala Sloatman

Variação do tema neoclássico de Atração Fatal, este thriller coloca C. Thomas Howell em maus lençóis nas mãos de uma psicopata misteriosa. Ele é o marido que não faz sexo há meses devido a um problema pessoal da esposa, ela é a garota de um chat de sexo que ele conhece numa noite solitária. Inocente e seduzido pela novidade, o cara passa a ser atormentado de todos os lados pela mulher, que parece ter poderes ninja porque pode tirar fotos incriminadoras dele em qualquer lugar, em qualquer hora. Se não fosse pelo fato de ignorar a lógica de forma absurda, o filme até que não seria tão fraco. Além disso, em que parte do mundo pessoas adultas ficam declamando em voz alta as mensagens que teclam em salas de bate-papo? O filme ainda tem a pachorra de transformar em suspeita qualquer loira de cabelos compridos, fazendo um desfile de pistas falsas sem qualquer cabimento narrativo. O mais interessante é notar que, apesar de tudo, mais uma vez C. Thomas Howell prova que é bom ator, pois consegue tirar água de pedra no papel do homem acuado.

O Mistério das Duas Irmãs (Charles Guard e Thomas Guard, 2009) 7/10

Com: Emily Browning, Arielle Kebbel, David Strathairn, Elizabeth Banks, Maya Massar

Refilmagem do sulcoreano Medo, O Mistério das Duas Irmãs extirpa a elevada carga de subjetividade do original para contar a mesma história sob uma ótica ocidentalizada. Anna (Emily Browning) retorna à sua casa depois de passar meses num sanatório se recuperando da trágica morte da mãe. Ela é recepcionada pela irmã mais velha (Arielle Kebbel), que a atualiza quanto ao relacionamento do pai (David Strathairn) com a nova namorada (Elizabeth Banks), com a qual as garotas não se dão nada bem. Pesadelos constantes e aparições fantasmagóricas, no entanto, fazem da nova rotina de Anna um tormento que só tende a piorar. Se você achou o original confuso, pode ter certeza que a versão norteamericana vai te agradar bem mais. Tudo no roteiro se encaixa de forma certinha, sem desviar muito dos pontos focais da história. As inserções sobrenaturais são tímidas, mais ou menos acompanhando a fixação da protagonista por sacos de lixo (depois de ver esse filme passei a olhar sacos de lixo de forma diferente por uns três dias, no mínimo), e os sustos são bem econômicos, um reflexo claro do desejo que o longa tem de se apoiar mais no suspense propriamente dito. Emily Browning está bem no papel principal, o que faz o filme funcionar razoavelmente.

O Turista (Florian Henckel von Donnersmarck, 2010) 6/10

Com: Johnny Depp, Angelina Jolie, Paul Bettany, Steven Berkoff, Timothy Dalton

O Turista é um filme esperto, apesar de sacana. A esperteza fica por conta do apelo universal envolvendo um cara normal viajando de férias pela Europa (Johnny Depp) e uma femme fatale (Angelina Jolie) que, ao usá-lo como parte de um plano para despistar a polícia, passa a olhá-lo com outros olhos. O cara é confundido com um assaltante de renome internacional, procurado tanto pela lei quanto por um poderoso chefão do submundo (Steven Berkoff, o eterno Vitor Maitland de Um Tira da Pesada). Para saber do que se trata a sacanagem, é preciso assistir ao filme até o fim (não, não vou escrever mais nada sobre a história). O cenário para a correria e o jogo de gato e rato entre a inteligência britânica e a dupla de fugitivos não poderia ser mais perfeito: o filme praticamente se passa todo em Veneza. Paul Bettany e Rufus Sewell complementam o elenco bem escalado, que infelizmente não tem muito o que fazer devido à presença cênica sufocante de Angelina Jolie, que continua linda mas está ainda mais magra, quase couro-e-osso. O Turista é boa diversão, mas quando o desfecho se delineia não dá para não se sentir lesado pelo roteiro engraçadinho.

Texto postado por Edward em 1 de Fevereiro de 2011