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Filmes Vistos em Setembro - Parte 1

Efeito Borboleta - Revelação (Seth Grossman, 2009) 4/10

Com: Chris Carmack, Rachel Miner, Kevin Yon, Lynch R. Travis, Richard Wilkinson

Depois do desastre que foi Efeito Borboleta 2, poucos eram os motivos para dar mais uma chance à série. A escassez de filmes no estilo e o apreço que eu tenho pelo original, no entanto, falaram mais alto. A primeira surpresa foi ver que esta sequência recebeu censura de 18 anos, o que era um indicativo no mínimo positivo. Houve então uma segunda surpresa, que infelizmente não durou muito: Efeito Borboleta - Revelação começa até bem. Agora o novo vidente que é capaz de enviar sua mente ao passado (Chris Carmack) tem plena consciência de seu dom, usa-o a serviço da polícia e tem como orientador um professor que parece saber tudo sobre o fenômeno (Kevin Yon). O troço começa a desandar quando a irmã de sua ex-namorada assassinada reaparece e reabre antigas feridas, fazendo com que ele contrarie os avisos de seu mestre e de sua irmã (Rachel Miner), que é contra as suas constantes viagens temporais. A boa impressão do início da história não dura muito, pois logo o roteiro envereda por uma série de absurdos que carecem principalmente de lógica espacial, fazendo com que a missão do protagonista gire em círculos. Apesar de justificar em parte a tal censura de 18 anos e não ser de todo ruim, o final não é muito coerente, e não consegue salvar uma tentativa até válida de reativar a excelente ideia criada pelo filme original.

Joshû Shiguma (Sasuke Sasuga, 2006) 1/10

Com: Shôko Hamada, Momo Iizawa, Kôichi Kitamura, Usaburô Ôshima, Mika Takahoshi

A.K.A. Female Prisoner Sigma – Filmada em meio digital e lançada diretamente no mercado de vídeo (o que deve ser realidade para todas as produções atuais do tipo no Japão), esta cria do subgênero Women-In-Prison não vale um décimo da capa do DVD, que é de uma genialidade de encher os olhos. A bagunça é a mesma de sempre: detenta novata (Shôko Hamada) chega a mais uma terrível prisão para mulheres no intuito de investigar como a irmã lá morreu. Seguem-se os abusos de sempre, as estripulias do diretor malvado, as chicotadas punitivas em detentas rebeldes e mais tarde uma guinada tematicamente não muito usual em histórias do tipo. O problema é que o negócio é tão barato e mal feito que o efeito desejado jamais chega a ser conseguido. Os valores de produção são uma vergonha. Provavelmente todo o filme deve ter sido rodado num único corredor e em duas salas que fizeram as vezes da prisão, do escritório do diretor e da sala de torturas. As cenas de luta são patéticas, os diálogos são toscos além do normal, o modo como retratam a mocinha em cena é decepcionante e, tirando uma única cena logo no começo, o nível de lascívia é pífio. Para salvar o filme só mesmo um alto nível alcóolico no sangue - o que não foi o meu caso!

Up - Altas Aventuras (Pete Docter e Bob Peterson, 2009) 6/10

Vozes: Edward Asner, Christopher Plummer, Jordan Nagai, Bob Peterson, Delroy Lindo

Os desenhos da Pixar são unanimidade em matéria de qualidade técnica. Up é um deles, e me chamou a atenção logo de cara pelo trailer, que mostrava um idoso e um garoto voando numa casa suspensa por milhares de balões coloridos (quem não se lembra imediatamente da história do padre que se perdeu e morreu nos céus do sul do Brasil suspenso por balões?). A história de Up é a trajetória do velhinho recluso Carl (Edward Asner), que certo dia decide realizar um sonho antigo seu e da falecida esposa: voar até as quedas d'água da América do Sul. Só que ao alçar vôo com os balões ele acaba levando sem querer o escoteiro Russell (Jordan Nagai), capturado sem querer do lado de fora de sua varanda. Juntos eles viverão aventuras malucas num recanto inóspito, tendo que lidar com um ex-explorador enlouquecido (Christopher Plummer) que é ajudado por uma matilha de cães falantes. Indo contra a maré de animações focadas somente na comédia pura, Up intercala momentos engraçados com caprichados trechos dramáticos capazes de levar a plateia às lágrimas. O primeiro e mais singelo deles é a introdução que mostra a história de Carl ao lado da esposa, e a maneira como as dificuldades da vida o deixaram amargo e só, condição que mudará ao longo do filme graças à companhia do menino. A animação em 3D é contida e não lança mão das artimanhas mais agressivas do recurso, preferindo focar mais o drama que a ação. A voz de Carl na dublagem em português é de Chico Anysio, um diferencial a mais numa produção que não se sobressai como deveria dentro do expressivo portfolio da Pixar.

Porky's (Bob Clark, 1982) 6/10

Com: Dan Monahan, Wyatt Knight, Roger Wilson, Cyril O'Reilly, Tony Ganios

Uma rápida pesquisa on-line revela o quanto este filme fez sucesso na década de 80. Eu me lembro bem da euforia que era para a meninada assisti-lo quando passava na TV, e confesso que fiquei com medo de rever e perceber que o filme envelheceu. E não deu outra. Assistir a Porky's hoje não tem o mesmo impacto de antes, basicamente devido ao modo como as comédias adolescentes tidas como "apimentadas" evoluíram de lá para cá. O personagem principal é Pee Wee (Dan Monahan), o rapaz mais baixote da turma, constantemente alvo das brincadeiras por estar desesperado para transar e perder a virgindade. Entre uma estripulia e outra, certo dia eles vão a um bordel do outro lado da fronteira do estado, chamado Porky's. Lá eles são ridicularizados, num episódio que afeta seriamente um deles e serve para que a história possa ter um desfecho. Apesar das situações forçadas e do elenco velho demais jamais convencer como adolescentes de verdade, é preciso admitir que a caracterização de personagens funciona bem, o que provavelmente foi o fator decisivo para o sucesso do filme. Ainda é divertido assisti-lo depois de tantos anos, mesmo que a graça não seja tão eloquente quanto antes. Atenção para a participação de Kim Cattrall como a cheerleader que uiva no vestiário!

Se Beber, Não Case! (Todd Phillips, 2009) 8/10

Com: Bradley Cooper, Ed Helms, Zach Galifianakis, Justin Bartha, Heather Graham

Quando um cara que está prestes a se casar e reúne três amigos para uma despedida de solteiro em Las Vegas, muita coisa pode acontecer. Até aí tudo bem. O problema é quando estes três amigos acordam no dia seguinte numa ressaca daquelas, sem se lembrar de nada do que aconteceu na noite anterior e sem fazer ideia de onde possa estar o noivo, que deverá se casar em um dia. O cenário de destruição é desolador, e para piorar há um tigre (de verdade) dentro do banheiro do hotel. É assim que este filme começa, depois de mais ou menos estabelecer quem e como são os personagens - uma espécie de três mosqueteiros da bebedeira: um professor policticamente incorreto (Bradley Cooper), um nerd (Ed Helms) dominado pela namorada mandona e o cunhado meio retardado do noivo (Zach Galifianakis). A premissa tem jogadas meio forçadas, como o efeito hiperativo-amnésico da droga que deixa os caras nessa situação ou o óbvio buraco narrativo que acompanha a revelação do paradeiro do noivo desaparecido (Justin Bartha). O que funciona em Se Beber, Não Case! é a jornada maluca e altamente imprevisível pela qual os "heróis" passam para encontrar o amigo, uma sucessão de situações inspiradas e genuinamente engraçadas. O elenco principal tem química e acerta completamente o tom. Em meio aos coadjuvantes, Mike Tyson é um desastre como ator, mas no contexto geral a sua participação é uma pérola que merece ser presenciada, entre outras como a cena no deserto copiada diretamente de Cassino de Martin Scorsese.

Showa Onnamichi - Rashomon (Chûsei Sone, 1972) 3/10

Com: Hitomi Kozue, Hideaki Ezumi, Moeko Ezawa, Setsuko Ohyama

A.K.A. Naked Rashomon – Tirando o nome, não existe qualquer relação entre este pastiche e o clássico Rashomon de Akira Kurosawa. O que temos aqui é mais um drama típico dos estúdios Nikkatsu teoricamente recheado de lascívia e nudez, com uma pitada de sadomasoquismo para não perder o costume. Eu digo "teoricamente" porque o filme é mutilado pelos borrões e tarjas da rígida censura japonesa, que não aceita a exibição de pelos pubianos em cena. O mais triste é constatar que, na maioria dos casos, os borrões são completamente desnecessários. O roteiro acompanha a tragédia de um político japonês que, com dificuldade de conseguir um herdeiro com a esposa, engravida uma prostituta que dá à luz gêmeos na década de 20. Para ficar somente com o menino, ele ordena a seu guarda-costas que mate a bebê e a mãe, mas o lacaio está apaixonado pela concubina e as deixa viver. A merda acontece 20 anos depois, quando todos se reencontram. Infelizmente, o que prometia ser um bom filme foi na verdade uma decepção - a história é uma bagunça, a caracterização de personagens é falha e a edição deixa muito a desejar, especialmente no final truncado e apressado. A protagonista Hitomi Kozue é muito bonita, é uma pena que a censura destrua a sua performance e estrague ainda mais o filme.

Brüno (Larry Charles, 2009) 6/10

Com: Sacha Baron Cohen, Gustaf Hammarsten, Clifford Bañagale, Josh Meyers, Hugh B. Holub

Quando o fator "choque" se eleva acima de qualquer outra característica que faz um filme valer a pena, é preciso ter muito cuidado, seja nas expectativas sobre o mesmo ou na seleção de quem pode ou não assisti-lo. Até pouco tempo atrás, Sacha Baron Cohen era sinônimo de Borat, que foi, para todos os efeitos, um ótimo filme que podia ser visto por qualquer plateia sem restrições (convenhamos, a cena da nudez no hotel não tinha nada demais). Atacando novamente com Brüno, é possível constatar várias coisas do trabalho de Cohen: (1) o seu método de fazer humor continua o mesmo, ou seja, encadear segmentos onde seu personagem faz comédia apoiando-se na reação de gente pega de surpresa; (2) Brüno, o personagem, não é tão engraçado quanto Borat, o que se estende também ao filme; e (3) o grau de aceitação das passagens mais desinibidas de Brüno é bem menor que no caso de Borat. Apesar de bastante engraçado em uma ou duas cenas isoladas (a mais explícita delas é absolutamente gratuita), acredito que o filme pode ser bastante ofensivo para a comunidade gay, o que torna a investida de Baron Cohen ainda mais extraordinária em sua ousadia e nos faz imaginar onde as coisas vão parar depois disso.

Divagações postadas por Edward de 12 a 17 de Setembro de 2009