Cinema

Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América

Motoqueiro Fantasma
Título original: Borat - Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan
Ano: 2006
País: Estados Unidos
Duração: 84 min.
Gênero: Comédia
Diretor: Larry Charles (Brüno, O Ditador)
Trilha Sonora: Erran Baron Cohen (Santa Paciência)
Elenco: Sacha Baron Cohen, Ken Davitian, Luenell Campbell, Pamela Anderson, Spirea Ciorobea, Mariam Behar, Michael Psenicksa, Jim Sell, Linda Stein, Larry Walker
Distribuidora do DVD: Fox
Avaliação: 9

Revisto em DVD em 22-DEZ-2007, Sábado

O que mais faz Borat funcionar como comédia não é o escracho que permeia praticamente todas as cenas do início ao fim do filme. Não são as diferenças culturais exacerbadas até o ponto do absurdo, e nem a já famosa cena do gordo pelado no quarto de hotel. O segredo está no enquadramento das reações – mais do que o comediante e suas pegadinhas egocêntricas, são as caras das pessoas presentes nas situações que conferem às estripulias a graça que provoca ondas de gargalhadas. Mesmo para aqueles que ainda se chocam com as coisas que Borat apronta, sejam elas combinadas ou não, não dá para ficar impassível diante da desconstrução da altiva sociedade norte-americana.

Uma sequência foi produzida pela Amazom em 2020, batizada de Borat - Fita de Cinema Seguinte.

A seção de extras do DVD traz oito cenas excluídas, tão hilárias quanto o longa em si, um compêndio de 16 minutos com as aparições de divulgação de Sacha Baron Cohen e a propaganda da trilha sonora do filme.

Visto no cinema em 3-MAR, Sábado, sala 2 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 8-MAR-2007

Existem dois tipos de experiência que se pode ter ao assistir a Borat - O Segundo Melhor blá-blá-blá blá-blá-blá. A primeira diz respeito a quem jamais viu algo com o seu protagonista, o ator britânico Sacha Baron Cohen (ouvir falar não conta, é preciso ver para crer). A segunda diz respeito a quem já teve contato com alguma coisa concebida pelo cara, seja através de seus programas na TV ou de videozinhos veiculados no YouTube. Eu pertenço à primeira categoria de espectador. Logo, o que está aqui escrito vem da mente de quem foi exposto ao material de forma crua, sem introdução visual alguma. O máximo havia sido o trailer, que não mostra lá muita coisa.

Num tom de completa farsa, disfarçada de documentário e coletânea de pegadinhas televisivas recheadas de escárnio, a história do filme é o retrato das desventuras de Borat Sagdiyev, o tal repórter do Cazaquistão que viaja aos Estados Unidos para aprender a cultura estrangeira e assim melhorar alguma coisa em seu país. Ele é acompanhado pelo produtor do fatídico documentário, o rechonchudo Azamat (Ken Davitian). Após aprontar das suas em Nova York, Borat passa a noite vendo TV e se apaixona por ninguém menos que Pamela Anderson, estrela da série Baywatch. E dá-lhe uma das viagens mais alucinadas já vistas através de todo o território dos Estados Unidos, enquanto Borat faz de tudo para ver e se casar com sua musa conforme os peculiares costumes de seu país.

É preciso dar razão a quem reconheceu em Sacha Baron Cohen um sucessor nato para a herança deixada pelo grupo inglês Monty Python no início dos anos 80. Conterrâneo dos caras, Cohen carrega a bandeira da sátira, da irreverência e da completa falta de parâmetros quando o assunto é fazer humor com base em arquétipos sociais, políticos e culturais, destruindo praticamente tudo o que vê pela frente com um olhar de incrível natureza crítica, do modo mais politicamente incorreto possível. Vamos ver... Se você fôr judeu, gay, cigano, americano, gordo, mulher ou simplesmente avesso a piadas escatológicas e de baixo calão, e se ofende facilmente com esse tipo de humor, corra. Passe bem longe que qualquer lugar em que o filme esteja sendo exibido.

Para quem se dispõe a aceitar os excessos e entrar no espírito do longa, a recompensa é em determinados momentos simplesmente hilariante. Cohen exagera as diferenças culturais entre oriente e ocidente de forma quase doentia, fazendo de seu personagem um bobo da côrte que o distancia de qualquer identificação séria com quem quer que seja. Obviamente, a mesma coisa se aplica aos alvos de sua metralhadora cômica, muito embora muitas das situações mostradas tenham sido alegadamente filmadas em condições reais, com gente de verdade. Contam as línguas mais informadas, por exemplo, que a polícia teria sido chamada dezenas de vezes por causa das estripulias do comediante e de sua equipe, em sua busca pelas patacoadas mais dignas de aparecerem no filme. É incômoda, por exemplo, a idéia de que a cena passada no rodeio junto com o discurso pró-Bush sejam verídicos. Ou que os pastores da capela protestante onde o comediante pede refúgio correspondam à realidade.

O resto, ainda que não me salte aos olhos como potencialmente polêmico sob qualquer ponto de vista, pode muito bem afetar outras pessoas de formas diversas. Dentre todas as agruras vividas pelo repórter fictício, é impossível não eleger as mais engraçadas. Já adianto logo as minhas: a imbatível briga dentro do quarto de hotel, que descamba para Azamat sendo agarrado pelos seguranças do lugar num salão cheio de gente como se fosse um porco cachaço (a cena mais gratuita e forçada, mas decididamente a campeã); o jantar fino de Borat com um grupo de ricaços; a noite de terror da dupla de cazaques dentro de um hotel gerenciado por um casal de velhinhos judeus; e o inacreditável encontro do nosso herói com a musa Pamela Anderson.

Os fãs de comédias rasgadas, em geral, sabem muito bem qual é o motivo do sucesso inegável de Borat. O filme é imperdível, e desestrutura tabus comportamentais com a mesma naturalidade com que seu protagonista exibe fotos de seu filho nu para estranhos. Como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.