Cinema

Prelúdio para Matar

Prelúdio para Matar
Título original: Profondo Rosso
Ano: 1975
País: Itália
Duração: 127 min.
Gênero: Suspense
Diretor: Dario Argento (O Pássaro das Plumas de Cristal, Suspiria, Inferno)
Trilha Sonora: Giorgio Gaslini, Goblin
Elenco: David Hemmings, Daria Nicolodi, Gabriele Lavia, Macha Méril, Eros Pagni, Clara Calamai, Giuliana Calandra, Piero Mazzinghi, Glauco Mauri, Aldo Bonamano, Liana Del Balzo, Geraldine Hooper, Furio Meniconi, Nicoletta Elmi
Distribuidora do DVD: London Films
Avaliação: 7

Durante a década de 70, o diretor italiano Dario Argento transitou tanto entre trabalhos de suspense quanto horror sobrenatural, mas a admiração da comunidade crítica e cinéfila em geral só chegaria vários anos depois, com a exposição cada vez maior de seus filmes no exterior e uma freqüente comparação a Brian De Palma, outro cineasta que se especializou em obras similares. Prelúdio para Matar ocupa lugar de destaque dentro da filmografia de Argento, por encerrar seu ciclo de suspenses com bastante violência gráfica, numa trama de assassinato retratada com estilo hoje inconfundível.

Na Itália, o professor de jazz estrangeiro Marcus (David Hemmings) conversa com o aluno e amigo Carlo (Gabriele Lavia) tarde da noite, e acaba presenciando o derradeiro golpe de um assassino numa médium (Macha Méril) que, neste mesmo dia, quase revelara sua identidade diante de uma arquibancada lotada. Após socorrer a vítima e responder às perguntas da polícia, Marcus não consegue deixar de investigar o caso por conta própria, com a ajuda da atrevida repórter de um jornal local (Daria Nicolodi). Perseguindo pistas a partir de suas recordações na noite do assassinato, Marcus fica cada vez mais próximo de se tornar, ele próprio, mais uma vítima do assassino.

Atmosfera, uma das características que mais se sobressaem nos filmes de Dario Argento, é o que há de melhor em todas as passagens deste suspense ousado, apesar de um ou dois lances fora da realidade dentro da história. O primeiro e mais grave deles se passa logo no início da jornada do músico metido a investigador: por que cargas d'água ele se aventura a entrar num apartamento sozinho, durante a madrugada, sem nem ligar para a polícia, sendo que o assassino acaba de matar uma moça com uma faca de açougueiro e provavelmente ainda está dentro do apartamento? Tirando essa grande inconsistência do roteiro, que infelizmente é a base sobre a qual tanto o seu desenvolvimento quanto a sua resolução se sustentam, o que se vê na tela é um show de virtuosidade cinematográfica raramente igualado em trabalhos similares. Aparentemente, é neste filme que Argento se firma como um mestre em utilizar a violência gráfica em cenas de assassinato, num estilo próprio que ele tornaria a apresentar em toda a sua filmografia subseqüente.

Não é só nas cenas-chave de assassinato que ecos de Hitchcock podem ser notados. A inspiração nos trabalhos do diretor inglês pode ser percebida ao longo de toda a narrativa, e Argento chega até mesmo a lembrar outro mestre da sétima arte durante a seqüência inicial da entrevista da médium, ao usar cenários de cores fortes que poderiam muito bem ter saído da mente de Stanley Kubrick. Triste é constatar que este consagradíssimo giallo, uma definição dada aos filmes italianos da época que seguiam a estética de suspense de Prelúdio para Matar, poderia ganhar muito em sutileza se houvesse um cuidado maior com a trilha sonora, que é horrível, por vezes irritante e em certos pontos simplesmente destrói a cena com teclados intrusivos e inapropriados. Fica claro que a colaboração entre Argento e a banda Goblin soa bem mais apropriada ao horror sobrenatural de Suspiria, por exemplo.

O DVD lançado pela London Films vem com a versão completa do filme, mas mostra um grande desrespeito para com o espectador ao não providenciar legendas para os diálogos falados em italiano, que se alternam sem explicação alguma com seqüências faladas em inglês. Na época em que o longa foi lançado fora da Itália, a versão dublada em inglês tinha sido cortada em cerca de meia hora e, quando foi restaurada, todos os trechos re-inseridos não dispunham de dublagem, permanecendo nestes casos o áudio original em italiano. Isso acaba prejudicando o entendimento completo do filme, o que é uma pena. Para completar esta péssima edição digital, não há um extra sequer disponível no disco.

Texto postado por Kollision em 14/Maio/2006