Cinema

Suspiria

Suspiria
Título original: Suspiria
Ano: 1977
País: Alemanha Ocidental, Itália
Duração: 98 min.
Gênero: Terror
Diretor: Dario Argento (Phenomena, Terror na Ópera, Dois Olhos Satânicos)
Trilha Sonora: Goblin, Dario Argento
Elenco: Jessica Harper, Joan Bennett, Alida Valli, Stefania Casini, Flavio Bucci, Miguel Bosé, Barbara Magnolfi, Susanna Javicoli, Eva Axén, Udo Kier, Giuseppe Transocchi, Rudolf Schündler, Margherita Horowitz, Jacopo Mariani, Fulvio Mingozzi, Franca Scagnetti, Renato Scarpa, Serafina Scorceletti
Distribuidora do DVD: London Films
Avaliação: 9

Atualmente, os filmes com temática de "pesadelo" são alguns dos mais incompreendidos pelo grande público. Geralmente, nestes filmes as mensagens são fragmentadas, obscuras, difíceis de compreender e, além do mais, exigem do espectador algo mais além de simplesmente sentar-se na poltrona e acompanhar as imagens na tela. Talvez poucos saibam, mas um diretor italiano chamado Dario Argento, na década de 70, já fazia filmes com aspecto onírico que, ainda hoje, impressionam pela fluidez e pelas características visuais, como é o caso do terror Suspiria, uma de suas mais famosas realizações.

Jessica Harper é Suzy, uma estudante de dança de chega à cidade de Friburgo, na Alemanha, para ingressar numa das escolas de dança mais conceituadas do mundo. Após uma entrada conturbada na instituição, ela é recebida pela regente da escola e acolhida num dos quartos do prédio, enquanto se familiariza com os costumes um tanto mesquinhos das futuras colegas de classe. O brutal assassinato de uma das alunas é o estopim de uma série de acontecimentos bizarros que levam Suzy a investigar o passado da escola, descobrindo que aquele lugar foi no passado um covil de bruxas e que algo assustador relacionado ao fato pode estar colocando em risco a sua vida e as vidas de suas colegas.

Suspiria, como a sinopse demonstra, tem uma história bastante linear. Como então pode ser enquadrado dentro da categoria de filmes de "pesadelo"? Após ver os créditos de abertura e a seqüência inicial, de um impacto raramente visto em obras similares, é essa a impressão que fica. Suzy sai da sala de desembarque do aeroporto já quase à meia-noite, enfrenta uma chuva torrencial para conseguir um táxi, chega à escola mas estranhamente não consegue entrar e, através de um bosque assombroso, é conduzida ao local onde passará a noite. A partir daí, o estilo único de Argento conduz a platéia através de uma narrativa às vezes sufocante de assassinato, suspense, e violência.

O aspecto visual do filme é um espetáculo à parte, com cenários que entram em absurdo contraste de um compartimento a outro e uma proposital profusão de cores que ora desorienta, ora maravilha o espectador. Para completar, a trilha sonora da banda Goblin (também creditada ao próprio Argento) é um dos fatores mais marcantes no filme. Recheada de motivos góticos e progressivos, teclados e efeitos sonoros como gemidos, gritos e sussurros, o diretor coloca-a a serviço da trama quase como um personagem próprio (o medo, a sensação do perigo iminente), delineando a atmosfera sinistra da escola e aumentando o volume e a agressividade nos momentos de violência. Violência esta que é explícita e tipicamente italiana, bem diferente do que a maioria das pessoas está acostumada a ver na esmagadora fatia de filmes americanos que domina o mercado do cinema mundial. Esse é um dos pontos que faz de Suspiria uma experiência imperdível para os fãs do gênero que ainda não conhecem muitos filmes de terror feitos fora da terra do tio Sam.

Dario Argento é um diretor conhecido por fazer filmes inspirados a partir de seus próprios sonhos e pesadelos, de forma visual pessoal e única, em espetáculos quase operísticos de violência. Ele também já declarou aos quatro ventos que se importa muito mais com os aspectos técnicos e visuais de suas obras do que com a atuação do elenco. Isso não deixa de se ser visível em Suspiria, tanto em relação à performance de alguns atores quanto ao tratamento de personagens. Uma personagem aparentemente importante introduzida na parte inicial do filme, por exemplo, desaparece de forma estranha com uma explicação esfarrapada (a companheira de quarto de Suzy). E as alunas praticamente não são mais mostradas em grupo quando os mistérios surgem, suplantando esse e outros detalhes em detrimento de uma tensão crescente.

O longa foi refilmado em 2018 com o mesmo título original, e no Brasil foi lançado como Suspiria - A Dança do Medo.

A edição em DVD veio com um extra interessantíssimo: um documentário de quase uma hora sobre o diretor, intitulado "Dario Argento - An Eye for Horror", com depoimentos de gente tarimbada como George Romero, John Carpenter e da filha do diretor, Asia Argento. Há ainda trailers do filme, spots de TV/rádio, uma galeria de fotos animada de 7 min. e biografias do diretor e de Jessica Harper.

Texto postado por Kollision em 10/Outubro/2004