Cinema

Miss Muerte

Miss Muerte
Título original: Miss Muerte
Ano: 1966
País: Espanha, França
Duração: 83 min.
Gênero: Terror
Diretor: Jesus Franco (Succubus, 99 Mulheres, Garota do Rio)
Trilha Sonora: Daniel White (La Saga de los Drácula)
Elenco: Estella Blain, Mabel Karr, Antonio Jiménez Escribano, Fernando Montes, Guy Mairesse, Howard Vernon, Ana Castor, Jesus Franco, Daniel White
Distribuidora do DVD: Mondo Macabro
Avaliação: 8

Uma das seqüências não oficiais de Gritos en la Noche (ou The Awful Dr. Orloff, de 1962), o primeiro trabalho de horror da impressionante filmografia de Jesus Franco, Miss Muerte é um filme cujo título remete a uma das personagens principais de sua história. Curiosamente, o filme ficou mais conhecido fora da Espanha por títulos como Le Diabolique Docteur Z ou The Diabolical Dr. Z, que fazem menção a um personagem completamente diferente na trama. Filmado com classe e com maravilhosa fotografia em preto-e-branco, Miss Muerte traz o clássico tema do cientista louco associado a um conto macabro de vingança e morte.

A tal "senhorita Morte" é o nome artístico de Nadja (Estella Blain), uma atriz que se apresenta todas as noites num dos bares da cidade. Sua transformação em assassina mortal com terríveis unhas compridas e look de viúva negra é cortesia da loucura de Irma Zimmer (Mabel Karr), a filha do tal Dr. Z (Antonio Jiménez Escribano). Depois que o doutor morre de um ataque cardíaco provocado por uma discussão com um grupo de médicos que se opõe às suas teorias sobre controle neurológico, Irma e seu ajudante assassino (Guy Mairesse) – ele também uma vítima das experiências do dr. Z – capturam Nadja e passam a controlá-la na tarefa de eliminar um a um os desafetos do doutor. E a única coisa capaz de oferecer algum perigo às maquinações de Irma é a preocupação de um amigo médico (Fernando Montes), por coincidência também amante de Nadja.

Na tradição do cinema de horror com tendências bizarras que começava a aflorar na década de 60, Miss Muerte vai além do convencional ao demonstrar uma maestria inesperada na direção do então iniciante Jesus Franco, que imprime um senso de estilo que transparece com facilidade na movimentação de câmera, nos ângulos inesperados, no uso eficiente da iluminação e na concepção inspirada dos cenários, que driblam o baixo orçamento da película com sabedoria. Na primeira metade do filme, o casamento destes aspectos com o roteiro é simplesmente perfeito, sendo que a história só perde um pouco de sua consistência quando entra no terço final, o ponto fraco da grande maioria das obras de mistério.

Tanto a capa do DVD quanto o título americano do filme passam uma idéia errada de seu conteúdo. O dr. Z não fica nem 15 minutos em cena, e quem mexe os pauzinhos na loucura é mesmo sua filha demente. Mas o filme pertence completamente à miss Muerte, papel mais famoso de Estella Blain, atriz que viria a se suicidar tragicamente no começo dos anos 80. Sua seqüência mais antológica é a tomada de topo da apresentação de miss Muerte na boate, onde ela, como uma traiçoeira viúva negra, se movimenta em sua teia para capturar mais uma vítima indefesa. Outra passagem memorável ocorre quando miss Muerte é capturada pela doutora enlouquecida e seu lacaio num teatro escuro, numa seqüência genial que Jesus Franco filma com um rigor que se aproxima do hitchcockiano.

Conhecido por escrever, dirigir, atuar, musicar e operar suas câmeras em pessoa, Jesus Franco dá aqui uma amostra ímpar de sua hiperatividade cinematográfica. Seguindo sua linha de trabalho peculiar, o cineasta dá um jeito de aparecer em cena no filme, encarnando um dos inspetores de polícia que pegam no pé dos bandidos na parte final da história. Ele deu um jeito de colocar até mesmo o compositor da trilha sonora, David White, para trabalhar diante das câmeras no papel de seu parceiro policial.

A edição em DVD da Mondo Macabro, como sempre, dá show. O filme pode ser visto com áudio em francês ou inglês, com legendagem opcional em inglês. Os extras consistem de um documentário de 15 minutos sobre a carreira de Jesus Franco, galerias de pôsteres e fotos da produção, biografias do diretor, de Estella Blain, Daniel White e Howard Vernon (com um easter egg interessantíssimo proporcionado pelo ator na segunda página do texto), a seqüência de abertura do filme com os créditos em inglês, o correspondente trailer americano e o trailer com vários lançamentos da distribuidora (acessível no final da seção de biografias).

Visto em DVD em 24-NOV-2006, Sexta-feira - Texto postado por Kollision em 28-NOV-2006