Cinema

Terra dos Mortos

Terra dos Mortos
Título original: Land of the Dead
Ano: 2005
País: Canadá, Estados Unidos, França
Duração: 93 min.
Gênero: Terror
Diretor: George Romero (A Noite dos Mortos-Vivos, A Estação da Bruxa, Exército de Extermínio)
Trilha Sonora: Reinhold Heil e Johnny Klimek (A Caverna,   Paris, Te Amo)
Elenco: Simon Baker, John Leguizamo, Dennis Hopper, Asia Argento, Robert Joy, Eugene Clark, Bruce McFee, Earl Pastko, Jonathan Whittaker, Jonathan Walker, Joanne Boland, Tony Nappo, Jennifer Baxter, Boyd Banks, Jasmin Geljo, Max McCabe, Tony Munch
Avaliação: 7

Uma olhadinha em algumas cenas de Terra dos Mortos é suficiente para entender porque George Romero já foi um dia considerado gênio, e porque uma de suas maiores contribuições para o cinema ainda é o tipo de filme de horror mais visceralmente capaz de chocar uma platéia. Afinal, foi ele quem praticamente (re)definiu a percepção que hoje temos dos tais zumbis, os mortos-vivos sem vontade própria que se alimentam de carne humana. Quarto filme de uma série iniciada por A Noite dos Mortos-Vivos (1968), este aqui meio que resultou de sobras do quilométrico roteiro original de Dia dos Mortos (1985), que não chegaram a ser filmadas nos idos dos anos 80. De lá para cá foram nada menos que 20 anos, e é óbvio que o filme só saiu devido ao recente revival capitaneado por obras similares (Extermínio, Madrugada dos Mortos).

Num mundo dominado pelos zumbis, alguns focos de resistência humana formam-se para se proteger dos mortos-vivos canibais. Nesse universo, o todo-poderoso Kaufman (Dennis Hopper) mantém um prédio que é uma espécie de shopping center hermeticamente fechado que serve de moradia para os humanos endinheirados, enquanto a maioria da população chafurda na superfície em eterna luta contra uma morte horrenda. Entre eles está o líder de uma força de defesa comunitária Riley (Simon Baker), que tem sob seu comando o impulsivo e traiçoeiro Cholo (John Leguizamo). A traição de Cholo vem mais ou menos quando Riley percebe que alguns mortos-vivos começaram a mimetizar atitudes humanas. Infelizmente, Riley vai preso com os amigos Charlie (Robert Joy) e Slack (Asia Argento) antes que possa fazer alguma coisa a respeito, o que força o magnata Kaufman a recrutá-los para tentar deter a ameaça de Cholo.

Os tempos são outros, e a forma de se fazer cinema mudou bastante desde a década de 60. Hoje Romero pode se dar ao luxo de contratar um elenco com gente respeitada como John Leguizamo, importar compositores alemães para cuidar de sua trilha sonora e garantir para seu filme um design de produção eficiente, capaz de transformar seu roteiro numa espécie de Mad Max da zumbizada. O gore continua intacto, e não perdeu a associação com o humor negro. O filme ganha em dinamismo com a introdução de uma espécie de general zumbi (o grandalhão Eugene Clark, que lidera a horda de corpos putrefatos contra uma humanidade cada vez mais dilacerada), mas infelizmente perde uma parte da fascinação macabra que era produto da irracionalidade do fenômeno original. Nada que um tiro na cabeça de um bicho desses não cure, como já mostravam as imagens em preto-e-branco de mais de quatro décadas atrás.

Como não se trata de um filme de zumbis qualquer, e sim um filme de George Romero, a crítica social aparece sob várias formas em Terra dos Mortos. Uma delas é a idéia do shopping center transformado em torre intransponível e comandada por um crápula que, no final das contas, pode não ser tão crápula assim. Zumbis sendo usados como diversão, alvos para esporte ou ornamentos em refúgios humanos são outras das aberrações geradas pela sociedade destruída pela carnificina. A maior ousadia, no entanto, fica guardada para o final, após muitos membros arrancados e muitos cérebros devorados, numa cena utópica que tenta dar um novo rumo para o conflito entre vivos e mortos. Um rumo controverso, diga-se de passagem.

Além dos famosos Dennis Hopper e John Leguizamo, a participação mais proeminente no filme cabe a Asia Argento, cujo sobrenome entrega que a moça é filha de outro diretor famoso associado ao macabro. O show não é propriamente deles, mas sim dos zumbis, que são o que todo fã do gênero quer ver ao entrar no cinema. E há bastante deles, de todos os tipos. Juntos eles protagonizam alguns bons momentos de tensão, que não chegam realmente a se sobressair em relação a filmes anteriores da mesma estirpe mas pelo menos garantem que George Romero não perdeu todo o gás de outrora.

Texto postado por Kollision em 25/Agosto/2005