Cinema

Harry Potter e o Cálice de Fogo

Harry Potter e o Cálice de Fogo
Título original: Harry Potter and the Goblet of Fire
Ano: 2005
País: Estados Unidos, Inglaterra
Duração: 157 min.
Gênero: Ação/Aventura
Diretor: Mike Newell (O Amor nos Tempos do Cólera, Príncipe da Pérsia - As Areias do Tempo)
Trilha Sonora: Patrick Doyle (Eragon, Sinais da Morte, A Última Legião)
Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Ralph Fiennes, Michael Gambon, Robbie Coltrane, Brendan Gleeson, Jason Isaacs, Alan Rickman, Maggie Smith, Timothy Spall, Miranda Richardson, Gary Oldman, Robert Pattinson, Stanislav Ianevski, Clémence Poésy, Katie Leung, Tom Felton, Mark Williams, James Phelps, Oliver Phelps, Bonnie Wright, Matthew Lewis, Shirley Henderson, Afshan Azad, Shefali Chowdhury, David Bradley, Predrag Bjelac, Frances de la Tour, Warwick Davis, Eric Sykes, Robert Hardy, Roger Lloyd-Pack, David Tennant
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 7

Revisto em DVD em 31-MAR-2007, Sábado

Com a revisão, vem uma constatação mais clara acerca das arapucas existentes dentro da adaptação do livro para o cinema. Como a introdução do filme, por exemplo, de longe seu ponto mais fraco. A história demora para encontrar seu ritmo, o que deixa o filme com uma duração excessiva. Não gosto da idéia de um epílogo longo demais após o clímax (este é bem-arquitetado, por sinal), mas pelo menos ele não é tão inútil quanto a rasgação de seda que Chris Columbus aprontou nos dois primeiros longas da série.

A saga continua em Harry Potter e a Ordem da Fênix.

O primeiro disco do DVD duplo da Warner vem com o filme, enquanto o segundo mistura joguinhos de lógica duvidosa com um punhado de especiais que variam de 10 a 15 minutos, com exceção de uma entrevista com os astros mirins de meia hora conduzida pelo diretor e roteirista Richard Curtis (Simplesmente Amor). O material especial é composto de cenas excluídas, detalhamento do processo de filmagem de cada uma das três tarefas enfrentadas por Harry Potter no torneio mágico, o baile de Hogwarts, um dia no set de filmagens com os outros três campeões, reflexões sobre o quarto filme, a criação do vilão Voldemort e o trailer do filme.


Texto postado por Kollision em 3/Dezembro/2005:

Com a maturidade vem a constância. O quarto capítulo da saga de Harry Potter é um exemplo vivo dessa afirmação, que traz para o filme de Mike Newell a mesma ambientação estabelecida com inegável competência por Alfonso Cuarón em Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban. O trabalho nem sempre grato de condensar a extensa prosa de J. K. Rowling ainda força a duração do longa para além dos limites aceitáveis, mas tudo é perdoado pelo resultado extremamente decente, que mantém uma distância segura da infantilidade anabolizada dos dois primeiros filmes.

A escola de magia de Hogwarts tem a honra de sediar o torneio Tribruxo, uma espécie de Copa do Mundo das três maiores escolas de bruxaria de todo o planeta, representadas na competição por três campeões escolhidos pelo tal cálice de fogo, todos com idade superior a 17 anos. A surpresa é grande quando, por um motivo inexplicável, o nome de Harry Potter (Daniel Radcliffe) também é cuspido pelo cálice. As regras são claras: a determinação do artefato mágico é sagrada, e Harry tem que aceitar os desafios mortais aos quais os campeões são submetidos. Sem poder contar com a ajuda constante de Hermione (Emma Watson) ou Ron (Rupert Grint), e ainda por cima vivenciando o primeiro namorico da adolescência, Harry é empurrado para uma teia de traição que o faz se defrontar com o próprio lorde Voldemort (Ralph Fiennes), renascido devido a um terrível plano levado a cabo dentro do próprio torneio.

Fiquei cansado de ouvir um punhado de gente dizendo que muita coisa do livro tinha sido cortada e blá-blá-blá. Não tem jeito, este é o preço a se pagar em qualquer adaptação cinematográfica. A vantagem do veterano diretor Mike Newell é que ele pegou um elenco principal de moleques mais maduro e consciente de seus próprios papéis dentro da superprodução. Daniel Radcliffe ainda não eliminou o cacoete de menear a cabeça suspirando sempre que precisa demonstrar nervosismo ou preocupação, mas as tribulações cômicas que ele e Rupert Grint passam para convidar garotas para o baile do torneio conseguem compensar vícios persistentes como este. Ao contrário do que divulgaram as notas sobre o filme e o pessoal que já leu o livro, não achei a tensão entre Ron e Hermione tão evidente assim. Para falar a verdade, a impressão que tive é que Rony não estava muito a fim, e que a gatinha está mais a fim é do Harry mesmo.

Muita discussão rolou sobre a divisão desta seqüência em dois filmes. A decisão pela obra única reflete-se na sensação de urgência que parece permear todo o longa, que é dotado de uma história que não faz concessões a subtramas e limita-se a somente resvalar em praticamente todos os novos personagens secundários, com exceção do Voldemort de Ralph Fiennes e de Brendan Gleeson como Alastair "Mad-eye" Moody, em duas das melhores caracterizações de toda a série. E finalmente o "grande" Albus Dumbledore (Michael Gambon) ganha um pouco mais de espaço em cena, justificando sua fama dentro do mundo dos bruxos. Quanto aos personagens adolescentes periféricos, eles entram e saem de cena sem nem mesmo marcar uma mínima presença que mereça ficar na memória. As várias referências aos capítulos anteriores fazem com que seja não imprescindível, mas melhor para o entendimento do todo, que o espectador tenha pelo menos assistido à terceira parte da saga. Aliás, O Cálice de Fogo é um exemplo de ponte narrativa de relevância dentro do projeto de toda a série, mais ou menos como o foi Star Wars Episódio V - O Império Contra-ataca.

Pelo fato do roteiro um pouco corrido, O Cálice de Fogo acaba sendo ligeiramente inferior a O Prisioneiro de Askaban, apesar da abordagem cada vez mais sombria permanecer como parte fundamental de toda a história. A competência técnica permanece também na trilha sonora, a primeira sem o toque garantido de John Williams, que desistiu de compor aqui para trabalhar em outro filme. Se o nível de realização continuar como está, as esperanças para o próximo capítulo só podem ser as melhores.