Cinema

Eragon

Eragon
Título original: Eragon
Ano: 2006
País: Estados Unidos, Inglaterra
Duração: 104 min.
Gênero: Ação/Aventura
Diretor: Stefen Fangmeier
Trilha Sonora: Patrick Doyle (Um Jogo de Vida ou Morte, Igor, Thor)
Elenco: Edward Speleers, Jeremy Irons, Sienna Guillory, Robert Carlyle, John Malkovich, Djimon Hounsou, Garrett Hedlund, Alun Armstrong, Joss Stone, Christopher Egan, Gary Lewis, Rachel Weisz (voz do dragão), Richard Rifkin, Steve Speirs
Avaliação: 5

Graças à série O Senhor dos Anéis, que despejou nos meses de Dezembro de 2001 a 2003 filmes bombásticos de fantasia e aventura, as platéias mundiais se acostumaram a receber, ao final do ano, um grande filme no mesmo gênero. Esperado, tal evento parece até algo natural, o que só demonstra o poder da mídia sobre o inconsciente coletivo ao garantir uma bem-vinda propaganda natural para o grande filme de fantasia do ano. E quanto a "grande", refiro-me àquele com maior exposição e elenco mais estelar, e não ao melhor propriamente dito. Porque este posto, no ano de 2006, foi inegavelmente ocupado pelo fantástico O Labirinto do Fauno, e definitivamente não por Eragon.

Eragon deriva de um livro homônimo escrito originalmente por um adolescente de 15 anos, cujo maior feito foi destronar Harry Potter da lista das obras mais vendidas em seu gênero. Como qualquer outro trabalho de fantasia contemporâneo, bebe de todas as fontes literárias conhecidas, como o próprio O Senhor dos Anéis, e lembra muito jornadas cinematográficas de peso como Guerra nas Estrelas. Obviamente, deve existir mérito na prosa deste Tolkien do século XXI, mas é uma tarefa praticamente impossível fugir do lugar-comum num conto sobre o embate entre o bem e o mal na era medieval, pelo mensos nas páginas do livro. No cinema, parece que a qualquer momento um hobbit vai saltar de algum arbusto para tentar roer a batata de um malfeitor das trevas – que por sua vez nada mais é que uma variação putrefata de um orc.

A história se passa no reino fictício de Alagaësia, iniciando-se com uma narração em off que conta como uma pedra mágica roubada por uma princesa (Sienna Guillory) vai parar nas mãos de um adolescente camponês chamado Eragon (Edward Speleers). A pedra é, na realidade, um ovo de dragão, artigo raro antes controlado pelo temido rei e ex-cavaleiro de dragões Galbatorix (John Malkovich). O ovo se abre e Eragon é eleito pelo bicho (uma fêmea) para ser seu cavaleiro, o pré-destinado a liderar as forças contra Galbatorix e reestabelecer a paz no mundo. O vilão envia ao encalço do moleque o temível espectro Durza (Robert Carlyle), enquanto Eragon passa a ser treinado e aconselhado por Brom (Jeremy Irons), um enigmático ancião contador de histórias. Com a princesa aprisionada, o cerco se fechando e muita imprudência adolescente, cavaleiro e dragão aprofundam seu laço e rumam em direção à região dos Varden, o único povo que ainda se opõe ao jugo de Galbatorix.

Preocupados em não dificultar muito as coisas para os marinheiros de primeira viagem, não sobrecarregando a todos com novos nomes e personagens, os realizadores procuraram deixar bem claro quem é do bem e quam é do mal, e como tais forças básicas se opõem numa trama inocente e fantasiosa. A simplificação em relação ao texto original – clamam aqueles que já o leram – é clara quando se olha o tempo de duração do filme, inferior a duas horas e fora da cartilha comum dos épicos desta estirpe. E, pelo jeito, em nenhum momento no processo de produção Eragon teve a intenção de fugir da sombra de O Senhor dos Anéis ou de Harry Potter. Muito pelo contrário, o filme abraça o estilo destes outros dois e não se incomoda nem um pouco com isso durante o desenvolvimento tão previsivelmente cadenciado de sua história.

Com efeitos especiais de primeira linha e atuações padronizadas que não chegam a chamar a atenção, Eragon parece ter ganhado as telas em momento inoportuno. A produção é caprichada, o dragão fêmea com a voz de Rachel Weisz é bacana e a trilha sonora de Patrick Doyle chega a empolgar em vários momentos, mas a essência da história é estéril demais para se fixar na memória da platéia. Com a saturação de épicos de fantasia de hoje em dia, é arriscado demais oferecer mais do mesmo e não acrescentar nada. A deixa nada sutil para a realização da inevitável continuação é quase um tiro no pé, que pode não se pagar por vários motivos, do faturamento deste primeiro filme aos aspectos técnico-criativos de uma seqüência, como o carisma deficiente de Edward Speleers ou as escolhas feitas por um roteiro inicial condensado demais.

Visto no cinema em 28-NOV, Quinta-feira, sala 3 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 31-DEZ-2006