Cinema

Tudo Acontece em Elizabethtown

Tudo Acontece em Elizabethtown
Título original: Elizabethtown
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 123 min.
Gênero: Comédia
Diretor: Cameron Crowe (Jerry Maguire, Quase Famosos, Vanilla Sky)
Trilha Sonora: Nancy Wilson
Elenco: Orlando Bloom, Kirsten Dunst, Susan Sarandon, Alec Baldwin, Bruce McGill, Judy Greer, Jessica Biel, Paul Schneider, Loudon Wainwright III, Gailard Sartain, Jed Rees, Paula Deen, Dan Biggers, Alice Marie Crowe, Tim Devitt
Avaliação: 6

Este filme representa um paralelo inusitado dentro da própria carreira do diretor Cameron Crowe. Como o personagem principal, Crowe desceu praticamente ao fundo do poço com o enorme equívoco que foi Vanilla Sky (2001), um filme-xerox completamente desprovido de identidade própria que inexplicavelmente levava seu nome nos créditos. Seu bom tino para retratar relacionamentos ensaia um retorno em Tudo Acontece em Elizabethtown, mas esbarra demais em reincidências do que ele próprio já havia feito, sem evoluir em direção alguma que valha a pena mencionar.

Aqui, o personagem central da trama é a ex-promessa do mundo dos calçados Drew Baylor (Orlando Bloom). Ex-promessa porque ele acaba de perder nada menos que 1 bilhão de dólares da companhia para a qual trabalha. Despedido com requintes de bizarrice pelo patrão (Alec Baldwin) e sumariamente abandonado pela namorada (Jessica Biel), o estrondoso fracasso faz com que ele pense imediatamente em suicídio. Porém, antes de consumar o fato, o rapaz recebe a notícia da morte do pai e se vê obrigado a viajar à cidadezinha de Elizabethtown a pedido da mãe (Susan Sarandon) para cuidar dos trâmites do enterro. Durante o vôo ele conhece uma solícita, atenciosa e pegajosa aeromoça (Kirsten Dunst) com a qual se encontra no dia seguinte e começa a cultivar uma amizade colorida. O que, sem que ele perceba, acaba ajudando-o a superar os demônios interiores.

Sem fazer muita força, qualquer um que já tenha assistido ao muito melhor Jerry Maguire consegue perceber as similaridades entre os dois filmes. Elizabethtown é simplesmente uma versão teen de seu antecessor, que pende descaradamente para a comédia romântica e traz uma mensagem de boas intenções, mas vem carregada de pequenos equívocos que fazem aflorar na obra de Crowe um aspecto mundano e superficial que não deixa de ser desapontador. Em nenhum momento a redenção do herói parece merecida, em nenhuma situação ele parece merecer a sorte que teve ou tem. Ao contrário de Maguire, Drew Baylor é um náufrago que não consegue retornar à superfície após quase se afogar. A jornada de auto-conhecimento gatilhada pela morte do pai, além de ter uma justificativa forçada além dos limites (o que é a personagem de Kirsten Dunst, um anjo?), tem muito enchimento de lingüiça.

Escalar Dunst e Bloom parece ter sido acertado, se considerarmos que a história não passa da saga de um fracassado qualquer. Não por ela, que é bastante simpática apesar de não ser nenhum estouro. A inexpressividade de Orlando Bloom cai como uma luva ao lado depressivo do roteiro (talvez por isso Crowe tenha escrito o filme com ele em mente), mas o cara simplesmente não consegue entregar nada que provoque genuína empolgação da platéia quando deve. Ainda bem que Susan Sarandon sobe ao palco para agraciar o público com um pouco de talento realmente utilizado, no único momento em que algo mais parece palpitar em meio à salada de situações corriqueiras. Até a trilha sonora do filme, um dos pontos fortes nas obras de Cameron Crowe, soa fora de lugar, só entrando nos eixos mesmo depois da metade da projeção.

Para os padrões vigentes do cinema mainstream, Tudo Acontece em Elizabethtown fica na média. Para um diretor cujo toque por trás das câmeras ainda me inspira, o filme não atinge as expectativas e tem um certo gostinho de desperdício.

Texto postado por Kollision em 28/Novembro/2005