Cinema

Quase Famosos

Quase Famosos
Título original: Almost Famous
Ano: 2000
País: Estados Unidos
Duração: 162 min. (versão estendida do diretor)
Gênero: Drama
Diretor: Cameron Crowe (Vida de Solteiro, Jerry Maguire, Vanilla Sky)
Trilha Sonora: Nancy Wilson
Elenco: Patrick Fugit, Billy Crudup, Kate Hudson, Jason Lee, Frances McDormand, Zooey Deschanel, Philip Seymour Hoffman, Anna Paquin, Fairuza Balk, Noah Taylor, Jimmy Fallon, John Fedevich, Michael Angarano, Mark Kozelek, Liz Stauber, Mark Pellington, Terry Chen, Zack Ward
Distribuidora do DVD: Columbia Pictures
Avaliação: 9

Quase Famosos é a epítome do filme de ficção auto-biográfico feito a partir do maior entusiasmo que alguém é capaz de vivenciar. Este entusiasmo corresponde, obviamente, à efervescência da adolescência. Em nenhum outro momento na vida os impulsos são tão genuínos, as experiências tão significativas e as decepções tão amargas. Como fica bastante claro pelo seu histórico, o diretor Cameron Crowe era um prodígio das letras, um moleque que aos 16 anos iniciava uma carreira invejada por muitos escritores que, assim como ele, viveram e amaram o rock'n'roll na década de 70. Evoluindo vinte anos mais tarde para um diretor versátil e talentoso, Crowe viria a dar duas tacadas certeiras com o livro e o filme sobre esse período de sua vida, uma verdadeira ode à música e ao lifestyle dos astros do mundo do rock.

A história do filme é contada sob o ponto de vista do jovem William Miller (Patrick Fugit), um adolescente de 15 anos cujo único amigo é Lester Bangs (Philip Seymour Hoffman), o editor e mordaz crítico de música da revista Creem. Talentoso, o rapaz acaba sendo convocado pela revista Rolling Stone para escrever uma matéria sobre a emergente banda de rock Stillwater, inclusive viajando com eles em sua turnê através do país. Meio que aos trancos e barrancos, o garoto vai conseguindo angariar boas histórias e a simpatia do guitarrista e líder da banda Russell (Billy Crudup) e do vocalista Jeff Bebe (Jason Lee). No caminho, ele se apaixona perdidamente pela espevitada Penny Lane (Kate Hudson), uma groupie que acompanha a banda e é, por acaso, uma espécie de namorada-amante de Russell. Quem não gosta nada dessa história do moleque cair na estrada é sua mãe (Frances McDormand), que não vê a hora dele voltar para casa e se formar na escola.

Todo este filme é extremamente prazeroso de se ver, num trabalho de cunho pessoal com um inestimável aspecto pop, que retrata a sensação de descoberta e deslumbramento com uma cumplicidade que cativa e enternece. Patrick Fugit está perfeito como o jovem e esperançoso William Miller, assim como estão extremamente bem todos os personagens principais deste drama musical regado (levemente) a sexo, drogas e (pesadamente) rock'n'roll. Jason Lee e Billy Crudup ensaiam uma parceria meio explosiva à la Jagger e Richards, ou Lennon e McCartney. Além da trilha sonora, a mística, o estilo e o comportamento por trás da banda fictícia também bebem das principais bandas da década de 70, mas principalmente do Led Zepellin.

Sendo um entretenimento de qualidade irrepreensível, engraçado e envolvente, Quase Famosos é garantia de diversão tanto na versão de cinema quanto na versão do diretor, denominada Untitled, com 40 minutos a mais e devidamente incluída nos DVDs duplos do longa. Há algo a se considerar, no entanto, em relação às personagens femininas do filme, que tenta de todas as formas possíveis atenuar e romantizar as trajetórias das groupies ou band aids, que em determinado momento são definidas como acompanhantes fanáticas e uma espécie de apoio moral das bandas em suas turnês. Se é que me entendem, todo mundo sabe que tipo de apoio essas garotas prestam aos astros de rock... Somente levando-se em consideração a inocência do personagem central e sua perspectiva diante do mundo é que é possível aceitar o modo como Kate Hudson e cia. são fotografadas. Ela, por sinal, entrou definitivamente no circuito de atrizes badaladas após esse trabalho. E corresponde cena por cena à aura de destruidora de corações a ela atribuída.

O que fica bastante claro após uma sessão do filme é o fato de que a descoberta da sexualidade e a entrada na vida adulta jamais serão um assunto morno para qualquer diretor e escritor de talento, como demonstra o senhor Cameron Crowe da era pré-Vanilla Sky.

O primeiro disco do DVD duplo vem com a versão de cinema do filme, três cenas excluídas/estendidas, biografias de todos os membros da equipe técnica e do elenco, notas de produção, trailer e reproduções de vários artigos publicados por Cameron Crowe na revista Rolling Stone. No segundo DVD é possível assistir ao filme em sua versão estendida, além de conferir 9 minutos de cenas de bastidores e ensaios, a lista dos discos preferidos do diretor em 1973 e uma entrevista curta de 2 minutos com o verdadeiro Lester Bangs, onde o cara desce o sarrafo sem dó nem piedade em bandas como o Roxy Music e Emerson, Lake & Palmer. Infelizmente para os non-English speakers, nenhum dos extras é legendado.

Texto postado por Kollision em 10/Março/2006