Cinema

Escuridão

Escuridão
Título original: The Dark
Ano: 2005
País: Alemanha, Inglaterra
Duração: 93 min.
Gênero: Terror
Diretor: John Fawcett (Clube dos Garotos, Possuída [2000])
Trilha Sonora: Edmund Butt (Verdadeiro Norte)
Elenco: Maria Bello, Sean Bean, Maurice Roëves, Sophie Stuckey, Abigail Stone, Richard Elfyn, William Devane, Cathy Lee Crosby, Richard Jaeckel, Jacquelyn Hyde
Distribuidora do DVD: Playarte
Avaliação: 4/10

Revisto em DVD em 13-DEZ-2013, Sexta-feira

Com exceção à previsibilidade do roteiro, que não consegue aproveitar a boa atmosfera proporcionada pelas locações e pela boa fotografia, um dos erros mais aparentes de Escuridão foi inverter a escalação de elenco para as meninas. Sophie Stuckey deveria ter feito a garota misteriosa, e Abigail Stone deveria ter ficado com o papel da mocinha que desaparece. Em pesquisa rápida sobre Annwn, a tal dimensão do além, descobri que tal aspecto da mitologia galesa corresponde ao paraíso da cultura ocidental, e não necessariamente ao purgatório. Este trabalho, portanto, falha em praticamente todos os níveis, apesar do elenco decente - Maurice Roëves faz basicamente uma cópia das inúmeras personificações que Pete Postlethwaite fez no memorável e intenso período que encerrou sua carreira.

Os extras do DVD se resumem aos trailers de Ponto Final e Espíritos - A Morte Está ao seu Lado.

Texto postado por Kollision em 5/Fevereiro/2006 -

Pastiche pasteurizado feito na Europa, Escuridão entra direto para o rol cada vez maior de histórias de fantasmas da era posterior a O Sexto Sentido (M. Night Shyamalan, 1999), reaproveitando vários dos conceitos estabelecidos no cinema de horror mainstream desde então. Trata-se de um vôo um pouco mais ousado de um diretor cuja carreira sempre esteve associada a trabalhos para a televisão, que conta com uma dupla de atores competentes à frente do elenco e tenta passar algum medo usando como pano de fundo parte da mitologia da antiga Inglaterra.

Há algo de errado no ar enquanto mãe (Maria Bello) e filha (Sophie Stuckey) finalizam a travessia do Oceano Atlântico e dirigem até a fazenda do pai (Sean Bean), no verdejante País de Gales. Os adultos estão separados já há algum tempo, e tudo o que a garota parece desejar é voltar a ver o pai. Como prenunciado em vários dos pesadelos da mãe, algo terrível acontece: a filha desaparece misteriosamente em meio aos rochedos do mar bravio que banha a acidentada região local. A súbita perda se converte em desespero enquanto o pai tenta encontrá-la de forma racional, e a mãe cede às superstições acerca de uma lenda sobre um padre às avessas que provocara suicídio em massa no passado. Para piorar, as aparições fantasmagóricas cada vez mais freqüentes de outra garotinha (Abigail Stone) só fazem aumentar o mistério.

A idéia por trás de Escuridão é um misto de conceitos de aceitação difícil, de substância assaz efêmera e com resultados quase sempre duvidosos. O diretor tenta de todas as formas criar e manter um clima sufocante, colocando na tela um conto de fundo espírita e parapsicológico de dar nó na cabeça de qualquer iniciado nestes assuntos, quem dirá em quem não dá a mínima para essas coisas. Ele abusa dos cortes rápidos acompanhados de uma rápida invasão sonora aos sentidos, um dos motes mais mal-empregados dos modernos filmes de horror. Fica claro que isso pode até funcionar no início, mas irremediavelmente cansa após um determinado ponto.

O que mais vai saltar aos olhos do espectador atento, principalmente àquele que tem acompanhado o cinema de horror americano recente, são as várias semelhanças visuais que esse filme possui em relação a O Chamado (Gore Verbinski, 2002). Isso vai desde a cinematografia lúgubre até cenas que não passam de pura cópia mesmo (como a da queda das pessoas de um penhasco), incluindo ainda o fato de Maria Bello se parecer um pouco com Naomi Watts em algumas de suas tomadas. Bacana, ainda que não espetacular, é a dimensão que corresponde ao estado da morte terrena, que ganha uma retratação que remete vagamente ao inferno de Constantine (Francis Lawrence, 2005).

São esses os principais motivos da sensação de déjà vu que permeia todo o filme. O final pessimista ajuda a dar aquele tom de desconforto sempre bem-vindo aos bons filmes de terror, mas Escuridão não consegue estabelecer uma base razoável para os fenômenos que mostra, resultando num trabalho somente mediano e algo confuso.