Cinema

Ponto Final

Ponto Final
Título original: Match Point
Ano: 2005
País: Estados Unidos, Inglaterra, Luxemburgo
Duração: 124 min.
Gênero: Drama
Diretor: Woody Allen (Scoop - O Grande Furo, O Sonho de Cassandra, Vicky Cristina Barcelona)
Trilha Sonora: Giuseppe Verdi, Georges Bizet, Gaetano Donizetti, Carlos Gomes, Andrew Lloyd Webber, Gioacchino Rossini
Elenco: Jonathan Rhys Meyers, Scarlett Johansson, Emily Mortimer, Matthew Goode, Brian Cox, Penelope Wilton, Margaret Tyzack, James Nesbitt, Alexander Armstrong, Simon Kunz, Geoffrey Streatfield, Miranda Raison, Rose Keegan, Zoe Telford, Selina Cadell, Colin Salmon
Avaliação: 9

Para um cineasta apaixonado pelos meandros de Nova York, e cujas maiores obras foram realizadas exatamente lá mesmo, Woody Allen saiu-se extraordinariamente bem com a troca de ares de Ponto Final, longa filmado inteiramente na Inglaterra. Neste trabalho, Allen emerge de sua bolha de crônicas engraçadas sobre os relacionamentos humanos para comandar um drama classudo com surpreendentes requintes de suspense, num de seus mais sólidos trabalhos fora de sua esfera habitual.

Este filme consiste, numa análise rápida e rasteira, numa grande parábola sobre a sorte, e como ela é capaz de alterar o rumo da vida de uma pessoa. O epicentro do drama, que se passa em Londres, é o professor de tênis Chris (Jonathan Rhys Meyers), um rapaz humilde que cai nas graças da rica família do aluno e amigo Tom (Matthew Goode), e logo se vê desfrutando da boa vida ao lado deles. Arrastado para uma união conveniente com a irmã de Tom (Emily Mortimer), Chris perde as estribeiras quando dá de cara com Nola (Scarlett Johansson), a espetacular noiva americana do futuro cunhado. Alucinado de desejo, ele não sossega até que a tenha em seus braços. O problema surge quando o desdobramento destes eventos passa a representar um provável revés na maré de sorte que tomou conta de sua vida.

Logo no começo, após uma observação enigmática declamada pelo protagonista, uma sensação sempre presente de nervosismo subliminar toma conta da tela, graças à persona enigmática, observadora e econômica em palavras de Jonathan Rhys Meyers, um ator que compartilha o mesmo aspecto distante e muitas vezes indecifrável de alguns atores específicos da nova geração hollywoodiana, como Joaquin Phoenix ou Peter Saarsgard. Ele não é em nenhum momento um alter-ego do diretor, uma espécie de lugar-comum nas obras de Allen, mas sim uma figura que transpira indiferença, um cara legal que diz o necessário na hora certa mas está sempre com algo em mente por trás dos bastidores. Esse é o único ponto do roteiro que compromete um pouco a credibilidade em relação à inocência da família que o toma praticamente como um filho adotivo, sem saber que ele carrega consigo a ameaça de uma tragédia anunciada.

Woody Allen pontua muitos dos momentos decisivos do filme com trechos de ópera, o componente principal escolhido para a trilha sonora. Se o humor brota ocasionalmente aqui e ali, é puramente em decorrência da bizarrice das situações, espelho do desespero de um homem cego de paixão, e subitamente sufocado por ela. Engraçado como o primeiro figurino de Scarlett Johansson me remeteu imediatamente à imagem de uma enfermeira... Teria todo homem alguma espécie de fetiche secreto pela categoria? A verdade é que a fascinação funciona e pega de jeito tanto o cara do lado de lá da tela quanto o barbado do lado de cá. E a moça vai se firmando como uma das novas musas do cinema moderno, capaz de ser fatal sem perder aquele característico ar de ninfeta que ainda possui.

Inteligente e em vários momentos surpreendente, principalmente em seu desfecho, Ponto Final é um filmaço. Ser a obra mais longa de toda a carreira de Woody Allen é um mero detalhe. Apesar das engrenagens entre os personagens demorarem um pouco para se ajustarem, o longa discorre sobre a paixão, a dissimulação, o crime e o suspense com maestria pouco vista no cinema atual. Que Allen continue a nos presentear com trabalhos desse quilate.

Texto postado por Kollision em 19/Março/2006