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Filmes Vistos em Janeiro - Parte 1

Olhos de Serpente (Brian De Palma, 1998) 7/10

Com: Nicolas Cage, Gary Sinise, John Heard, Carla Gugino, Stan Shaw

Olhos de Serpente é um filme facilmente subestimável, principalmente para mim. Espremido entre Missão Impossível e Missão Marte, confesso que ele me passou despercebido em meio aos lançamentos do final dos anos 90. Mas basta começar a vê-lo para notar que não estamos diante de um longa dirigido por um diretor convencional, mas sim por um cineasta que prima pela excelência cênica. A sequência inicial se estende por minutos sem nenhum corte aparente enquanto acompanha a chegada do detetive Rick Santoro (Nicolas Cage) à plateia de uma luta de boxe que está prestes a começar. No caminho somos apresentados a vários personagens importantes da trama, em especial outro policial responsável pela segurança do evento (Gary Sinise). Depois que uma série de tiros atinge o secretário de defesa dos EUA e uma mulher (Carla Gugino), Santoro começa a investigar o ocorrido e descortina uma rede sórdida de corrupção e conspiração em escala nacional. Há vários aspectos que chamam a atenção em Olhos de Serpente, como o fato do filme se passar mais ou menos em tempo real e a caracterização nada benevolente de seu protagonista. Afinal, Rick Santoro é um policial abertamente corrupto, que trai a esposa, extorque civis e se aproveita de vantagens às quais só uma pessoa em sua posição poderia ter acesso. A sutileza se restringe completamente à direção de De Palma, que se presta a um roteiro carregado de sordidez e violência, sem intenção alguma de enaltecer personagens. Muito interessante também é o panorama político da história, que levanta questões incômodas sobre a indústria bélica norte-americana. Enfim, apesar de ser um trabalho menor de um grande diretor, o filme é um tour de force técnico que merece ser apreciado.

Trog - O Monstro das Cavernas (Freddie Francis, 1970) 3/10

Com: Joan Crawford, Michael Gough, Bernard Kay, Kim Braden, David Griffin

Três exploradores descobrem uma caverna não mapeada, habitada por um homem das cavernas com instinto assassino. Depois que sangue inocente é derramado, o bicho é capturado e levado às instalações de uma antropóloga de bom coração (Joan Crawford, em seu último papel no cinema). Enquanto ela tenta domesticar a criatura, batizada de Trog (contração infame de "troglodita"), um empresário inescrupuloso (Michael Gough) inicia uma campanha feroz para exterminá-lo a fim de manter a sociedade a salvo do monstro. Com exceção da cruzada inexplicável em prol do extermínio do homem das cavernas, que não faz sentido algum sob nenhum ponto de vista, Trog é uma palhaçada capaz de render uma boa dose de diversão para quem não tem preconceito contra este tipo de obra. Primeiramente, algumas das aparições do monstro das cavernas são puro deleite cômico, da fantasia e máscara toscas (segundo o imdb, herdada dos macacos do set de 2001 - Uma Odisseia no Espaço) às idiotices que ele é obrigado a fazer. Além disso, o embate entre a austera Crawford e um Michael Gough hilariamente obcecado rendem um punhado de cenas de tribunal (!) quase surreais em sua inadequação, inseridas obviamente para fazer o filme bater na duração padrão de uma hora e meia. E dá-lhe efeitos especiais de Ray Harryhausen aparecendo graças a cenas chupadas de outro filme. Em toda a sua vergonha narrativa, Trog tem pelo menos uma cena verdadeiramente memorável: a morte do açougueiro. Essa cena é fantástica e remete a coisas muito adiante de seu tempo!

A Sétima Alma (Wes Craven, 2010) 7/10

Com: Max Thieriot, John Magaro, Emily Meade, Jessica Hecht, Nick Lashaway

Para o bem ou para o mal, o gênero slasher adolescente deve muito a Wes Craven graças ao sucesso de Pânico. A Sétima Alma tem muito do mesmo estilo, mas desta vez o cineasta adiciona à fórmula um toque sobrenatural que deixa o filme ligeiramente fora dos trilhos tanto como um thriller quanto como um trabalho de horror sobrenatural. A cena de abertura é o que provavelmente há de mais bombástico na história: depois de matar várias pessoas, um homem que sofre de distúrbio de múltiplas personalidades faz um estrago em sua própria família e na força policial de uma pequena cidade, transformando-se num tipo de lenda local. 16 anos depois, sete adolescentes nascidos na noite de sua morte/desaparecimento começam a ser assassinados um a um, no que seria a concretização da profecia do serial killer de possuir um deles e terminar o que começara quando em vida. Experiente, Wes Craven é o tipo de cineasta capaz de infundir até mesmo coisas descartáveis como esta com um senso de diversão que poucos longas de horror hoje em dia conseguem apresentar. A primeira metade do filme é ótima em matéria de humor negro, com uma atmosfera estudantil genuinamente bizarra. O roteiro só incomoda mesmo quando entra em seu terço final e o mistério sobre o assassino se afunila, com muitas revelações e um certo excesso de pistas falsas.

Venus in Furs (Jesus Franco, 1969) 6/10

Com: James Darren, Maria Rohm, Barbara McNair, Klaus Kinski, Dennis Price

Venus in Furs é uma linha divisória sutil no início da carreira de Jesus Franco. Um mistério que se recusa a se definir entre thriller e divagação onírica descarada, que já apontava para uma linha de trabalho que se tornaria constante na filmografia do cineasta. Essa linha não tem nada a ver com a história do longa, mas sim com o modo com que Franco retrata a musa Maria Rohm, a tal Vênus. Rohm estava certamente destinada a se tornar a musa de Jesus Franco, mas por algum motivo a câmera do diretor se enamorou por Soledad Miranda nos filmes que se seguiram, e o resto é história. O que quero dizer é que os melhores trabalhos do espanhol surgiram quando ele tinha uma musa para fotografar, e Venus in Furs não é exceção. Mesmo com o tratamento barato dado ao mistério e o uso equivado do Rio de Janeiro dentro da história, o filme vale a pena pelo erotismo sem vulgaridade e pela ótima atmosfera calcada no jazz. Rohm é uma loira estonteante que, certo dia, é morta por três pessoas durante uma sessão de sexo sadomasoquista. Seu corpo é encontrado na praia por um músico atormentado (James Darren). Algum tempo mais tarde, a moça reaparece em sua vida como se nada tivesse acontecido, retornando para atormentar também aqueles que a assassinaram. Venus in Furs é provavelmente o trabalho mais musical que já vi de Jesus Franco, e merece ser conhecido tanto por seus fãs quanto por aqueles que curtem histórias boêmias passadas na década de 70.

Lobos (Michael Wadleigh, 1981) 6/10

Com: Albert Finney, Diane Venora, Gregory Hines, Edward James Olmos, Tom Noonan

Quem se dispõe a assistir a um filme intitulado Lobos geralmente espera por algo relacionado a alcateias assassinas aniquilando humanos idiotas. Pelo menos essa era a ideia que eu tinha em mente. O filme, que é baseado num livro de mesmo nome, é na verdade um thriller investigativo encorpado, de estrutura clássica. Albert Finney é um detetive afastado por problemas pessoais que certo dia é chamado de volta à ativa para investigar o assassinato brutal de um rico empresário bem no centro de Nova York. Trabalhando com uma parceira psicóloga (Diane Venora, um charme) e um amigo médico legista (Gregory Hines), ele vem a se deparar com um enigma cuja resolução pode estar além da lógica racional associada a crimes similares. Sob um ponto de vista puramente artístico, Lobos é um experiência interessante. A direção é sólida e o trabalho de câmera igualmente bom. O que não fica muito bem estabelecido é exatamente a natureza do fenômeno por trás dos assassinatos, que esbarra em passagens do roteiro que se contradizem em vários momentos. O gore é minimalista mas bastante eficiente quando presente, e Albert Finney convence numa ótima atuação.

A Igualdade é Branca (Krzysztof Kieslowski, 1994) 9/10

Com: Zbigniew Zamachowski, Julie Delpy, Janusz Gajos, Jerzy Stuhr, Aleksander Bardini

Dando prosseguimento à série de filmes que busca espelhar os ideais políticos da França, a história de A Igualdade é Branca foca na trajetória do imigrante polonês Karol (Zbigniew Zamachowski), que se vê na rua da amargura quando sua esposa francesa (Julie Delpy) pede o divórcio e ele fica impossibilitado de retornar ao seu país. Sem ter nem onde dormir, o homem passa a mendigar nos túneis do metrô parisiense até o dia em que conhece um conterrâneo (Janusz Gajos) que o ajuda a se reerguer a duras penas. Só que Karol nunca deixou de amar a esposa, e esse vínculo com o passado eventualmente retorna para assombrá-lo. O drama apresentado por Kieslowski tem início e fim cruel e diametralmente estruturados, com um protagonista que se converte numa espécie de herói às avessas perante a sociedade e perante o público. Em vários momentos Karol demonstra que não é inocente, mas mesmo assim é praticamente impossível não se comover com sua luta para readquirir a dignidade - nesse sentido, a interpretação de Zbigniew Zamachowski é nada menos que magistral. Tal qual o anterior A Liberdade é Azul, a cenografia de A Igualdade é Branca é fortemente calcada numa cor específica. Mas não é apenas a neve que passa uma sensação de torpor emocional. Esta transparece nos personagens, nos diálogos e nas situações, algumas de uma sensibilidade que valoriza e não raro transcende o tema. Um excelente filme, sem sombra de dúvida.

Entre Lençóis (Gustavo Nieto Roa, 2008) 5/10

Com: Paola Oliveira, Reynaldo Gianecchini

Diz o colombiano Gustavo Nieto Roa que este filme não é remake ou cópia do chileno Na Cama, mas como eu não assisti a este último não posso tecer comentários nesse sentido. Entre Lençóis é a história efêmera de homem (Reynaldo Giannechini) e mulher (Paola Oliveira) que se conhecem numa boate e vão direto para um quarto de motel. Entre uma rodada e outra de sexo, os dois passam a se conhecer e nessa noite discutem de tudo um pouco, o que provoca uma certa ruptura nas rotinas de ambos quando raia o sol no próximo dia. Fazer um longa-metragem com apenas uma dupla de atores num ambiente reduzidíssimo não é para qualquer um, e até hoje só conheço um cineasta que foi realmente capaz de fazer filmes bombásticos com recursos tão limitados. Entre Lençóis não é um desastre, mas faz pouco para fugir da previsibilidade. Enquanto alguns diálogos até convencem e conseguem fazer a plateia se identificar, outras passagens não são tão bem sucedidas. A dupla de atores globais é o grande chamariz para ambos os públicos masculino e feminino, mas quem está mais à vontade em cena é com certeza Paola Oliveira. Gianecchini, por exemplo, simplesmente não consegue esconder o nervosismo em seu desempenho no strip-tease. Apesar do tema algo picante, não há nenhuma cena de nudez frontal no filme, que faz de tudo para evitar tomadas sensuais demais e se limita a mostrar enquadramentos sutis, sem nada que cause polêmica.

Vespas Assassinas (Paul Andresen, 2003) 0/10

Com: Shane Brolly, Kaarina Aufranc, J. Patrick McCormack, Pepe Serna, Roger Nevares

A canastrice é uma mercadoria que às vezes merece algum crédito, isso é verdade. Há filmes ruins que se pagam por muito pouca coisa, e essa tal canastrice geralmente é a grande culpada por conseguirmos encontrar algo de valor neles. No caso em questão, preciso confessar que não encontrei nada capaz de redimir a ruindade crônica do todo. Afinal, Vespas Assassinas é, do início ao fim, uma tortura sem um momento sequer capaz de provocar pelo menos um segundo de admiração por aquela cena bizarra isolada, aquela passagem com a atriz desnuda em situação fetichista ou aquela morte maluca que só poderia ter sido filmada nos pastiches de mais baixo orçamento possível. Não, aqui não há nada capaz de fazer fluir nem o sangue do cinéfilo mais bem-disposto da praça. A história é uma palhaçada que envolve um grupo de militares renegados à procura de um ninho de vespas milenares na fronteira entre o México e os EUA. Para fazer frente aos malvados e evitar a catástrofe, só mesmo um entomologista certinho (Shane Brolly) e uma repórter intrometida (Kaarina Aufranc). A edição do filme é uma vergonha, você vê até gente olhando pra câmera quando a cena já devia ter sido cortada. Apesar disso, o pior de tudo é o final, que cospe na cara do espectador e o deixa com a maior cara de idiota. Perto disso aqui, coisas como O Ataque das Vespas Mutantes é até bom. Corram!

Texto postado por Edward em 19 de Janeiro de 2011