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Estalactites Assassinas

Deu merda!

Se eu soubesse que seria tão difícil assim não teria tentado. Simplesmente não teria. Ela veio voando, parecia meio perdida ou talvez afetada pela fumaça do trator que passara pelo portão há pouco. Mas era suculenta demais, não deu para evitar.

Se eu soubesse que a gordura dela não era indicativo de que a peste fosse lerda para pegar vôo (o que me pareceu lógico, dada a massa carnal sob as asas em maravilhoso zumbido), jamais teria me aventurado a invadir o buraco do prensa-cabos. Sem espaço algum para ela se mover, seria fácil garantir o almoço.

Só que alguma coisa não estava certa. A danada se prendeu a dois filamentos de metal presos a um barril de cor laranja e soltou faíscas como fogos de artifício. Não sei se era por causa do choque, mas ela olhava para mim com a boca torta, e seus pelos barrigais se eriçavam todos em minha direção. Parecia até excitada, a danada. Quando o show de fogos passou, o caldinho escorria pelas asinhas como néctar. Pronto, meu almoço estava garantido.

Apertei-me toda para passar pelo teto de pequenas estalactites e fui ao encontro dela. Ah, se eu soubesse o que viria a seguir... Ela ainda estava viva! Soltou-se dos ferros e cambaleou de volta para o prensa-cabos, pulando de uma só vez para o mundo exterior e alçando vôo para sei-lá-onde. E eu, com cara de palerma, tentava tirar o olho da mira de uma das estalactites.

Se o clarão que se seguiu não era indicativo de uma intervenção divina, então nada poderia me tirar da situação em que me encontrava. Ouvi vários ruídos de alguma coisa sendo rosqueada e de novo os barulhos ensurdecedores dos gigantes de botas que apareciam por aqui de vez em quando. O problema é que a intervenção não tinha nada de divina, e senti minhas costelas se comprimirem ainda mais contra a parede ainda chamuscada pela danada que me levara até ali. Praga.

E, para o fotógrafo que me flagrou nesta indecente posição post-mortem, tudo o que tenho a dizer é:

— Tomara que eu tenha dado a você ou ao seu chefe muita dor de cabeça, seu assassino!

Movies!

Últimos filmes vistos:

Lolita (1962) - Visto em DVD em 7-JAN, Sábado
Um dos melhores de Kubrick. Indicado para os bodes velhos de plantão.

Nascido para Matar (1987) - Visto em DVD em 8-JAN, Domingo
Dois filmes em um, sendo que o primeiro é melhor. A falta de unidade é o que acaba prejudicando esse trabalho de peso.

Carmilla - A Vampira de Karnstein (1970) - Revisto em DVD em 8-JAN, Domingo
Tem o seu valor histórico dentro do gênero, mas não chega a empolgar.

Luxúria de Vampiros (1971) - Revisto em DVD em 9-JAN, Segunda-Feira
Fraco, com interpretações dignas de pena, num roteiro mais perdido que seu elenco. A protagonista é completamente eclipsada pela coadjuvante.

As Filhas de Drácula (1971) - Visto em DVD em 12-JAN, Quinta-Feira
Último filme da trilogia Karnstein, esse sim vale a pena ser visto. Com encantadoras gêmeas em lados opostos do tabuleiro vampírico.

Beavis & Butt-head Detonam a América (1996) - Revisto em DVD em 14-JAN, Sábado
Neo-clássico do nonsense animado. Prende a atenção e é capaz de fazer qualquer um rolar de rir, apesar dos detratores.

O Iluminado (1980) - Revisto em DVD em 15-JAN, Domingo
Kubrick traz um toque de classe a um gênero marginalizado, e compõe uma quase ópera do horror.

Texto "iluminado" e postado por Kollision em 17/Janeiro/2006