Cinema

Ritual dos Sádicos - O Despertar da Besta

Ritual dos Sádicos - O Despertar da Besta
Título original: Ritual dos Sádicos - O Despertar da Besta
Ano: 1970
País: Brasil
Duração: 93 min.
Gênero: Terror
Diretor: José Mojica Marins (Finis Hominis, A Virgem e o Machão, Como Consolar Viúvas)
Trilha Sonora:
Elenco: José Mojica Marins, Sérgio Hingst, Ângelo Assunção, Ronaldo Beibe, Andreia Bryan, Ítala Nandi, João Callegaro, Ozualdo Ribeiro Candeias, Maurice Capovila, José Carlos Cotrim, Maria Cristina, Emília Duarte, Jaciara Ducena, Jairo Ferreira, Jandira Gabriel, Mário Lima, Annik Malvil, Márcio Marcel, Stela Maris, Helena Nogueira, Walter Portela, Carlos Reichenbach, Roney Wanderley
Distribuidora do DVD: Cinemagia
Avaliação: 3

Dos vários filmes de José Mojica Marins Ritual dos Sádicos é, estranhamente, um dos que mais desfruta de popularidade entre os fãs hardcore do horror marginal. Talvez isso se justifique pela proximidade temporal e temática do filme com os grandes clássicos de sua carreira. O que o longa representa, no entanto, é uma espécie de aproveitamento tangencial do personagem de Zé do Caixão, numa história de colagens e produção paupérrima que usa recursos de metalinguagem para transmitir uma mensagem frouxa sobre o impacto do abuso de drogas em nossa sociedade. A intenção é louvável, mas a execução peca pela encheção de lingüiça, principalmente na ambiciosa seqüência em cores do final, que tenta repetir o efeito do recurso usado em Esta Noite Encarnarei em Seu Cadáver (1967).

O filme abre com Zé do Caixão dando uma de mestre de cerimônias, mas logo o público é jogado numa colagem de seqüências sem conexão alguma entre si. Entre uma passagem bizarra e outra, um grupo de intelectuais discute as cenas e os aspectos psicológicos a elas associados. Logo ficamos sabendo que um deles é um psiquiatra famoso (Sérgio Hingst), que expõe suas idéias acerca dos trechos dos pesados desvios comportamentais aos quais eles assistem, todos regados a um consumo pesado de entorpecentes. A presença de José Mojica Marins (o cineasta) no grupo é justificada quando o médico apresenta o relato final de sua experiência, em que ele aplicara doses de LSD em quatro cobaias para expô-los à imagem do personagem do Zé do Caixão e registrar suas reações.

As bizarrices se sucedem uma após a outra, entrecortadas pelos comentaristas e suas bravatas: diretor de TV frustrado se empanturra de macarrão, tenta faturar em cima de uma atriz novata (Ítala Nandi) e termina se masturbando enquanto observa ela ser estuprada por um de seus funcionários; grupo de viciados se esbalda observando uma loira fazendo xixi num penico; matuto se excita esfregando roupas íntimas de mulheres no tanque enquanto elas o observam de dentro da água; um homem que é a cara de Vincent Price (o diretor Ozualdo Candeias) dá vazão ao prazer que sente em espancar garotas indefesas; jovem saidinha entra numa roda de viciados e termina sendo currada pelo cajado de um pastor também viciado; mulher casada se droga e se entrega a uma relação adúltera. Nenhuma cena, no entanto, supera a passagem em que uma coroa safada se droga enquanto observa a filha fazer sexo com o empregado. No ápice do momento, a matrona aparece acariciando um jumento para se aliviar!

Uma grande ladeira abaixo é uma boa maneira de definir o filme. Mojica emprega em sua maioria atores amadores, contando com participações especiais de chapas diretores e até mesmo de um policial que tentou prendê-lo por baderna (o gordinho da cena do macarrão). Há cenas com uma quantidade incrível de mulher feia. A cena em cores, destinada a mostrar os efeitos alucinógenos do LSD nas cobaias, é marcada por um psicodelismo tosco e se arrasta até não poder mais, acompanhada pela ideologia palerma de Zé do Caixão sobre o tudo e o nada. A auto-promoção feita com cenas reais de aparições de Mojica na televisão da época é interessante pelo contexto histórico, mas poucas nuances do filme demonstram inspiração verdadeira, como na imaginação da mocinha ao enxergar um porco no lugar do algoz. No geral, tudo é desconexo demais e não se paga com o desfecho fraco, que pelo menos transmite uma verdade inegável sobre o poder da sugestão associado ao uso de drogas.

O carro-chefe do DVD volta a ser a faixa de comentários de José Mojica Marins. Há também um documentário de 15 minutos sobre o diretor intitulado Fogo Fátuo, cinco entrevistas curtas com pessoas associadas ao filme (incluindo o policial gordinho e Ozualdo Candeias), um especial sobre o arquivo nacional de cinema do Rio de Janeiro, outro sobre uma das oficinas de interpretação coordenadas por Mojica, uma entrevista com o próprio, enquete com transeuntes na rua e suas opiniões sobre o personagem, um conto de rádio narrado por Mojica, a marcha de carnaval que aparece no filme e é co-interpretada pelo próprio, uma extensa galeria de textos, críticas e roteiros relacionados aos seus trabalhos, biografias curtas de vários envolvidos com o filme, várias galerias de fotos, pôsteres e quadrinhos e o trailer do filme, além dos trailers de O Estranho Mundo de Zé do Caixão, Finis Hominis, Sexo e Sangue na Trilha do Tesouro, O Exorcismo Negro, As Mulheres do Sexo Violento, A Estranha Hospedaria dos Prazeres e O Profeta da Fome.

Revisto em DVD em 18-DEZ-2006, Segunda-feira - Texto postado por Kollision em 22-DEZ-2006