Cinema

Minha Vida de Cachorro

Minha Vida de Cachorro
Título original: Mitt Liv som Hund
Ano: 1985
País: Suécia
Duração: 101 min.
Gênero: Drama
Diretor: Lasse Hallström (Meu Querido Intruso, Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador, O Poder do Amor)
Trilha Sonora: Björn Isfält
Elenco: Anton Glanzelius, Tomas von Brömssen, Anki Lidén, Melinda Kinnaman, Kicki Rundgren, Lennart Hjulström, Ing-Marie Carlsson, Manfred Serner, Susanna Wetterholm, Leif Ericson, Christina Carlwind, Ralph Carlsson, Didrik Gustavsson, Jan-Philip Hollström, Vivi Johansson
Distribuidora do DVD: Spectra Nova
Avaliação: 7

Grande responsável por impulsionar a carreira internacional do diretor Lasse Hallström fora de seu país, a Suécia, Minha Vida de Cachorro ganhou o mundo na época de seu lançamento após ser indicado aos Oscars de melhor roteiro e direção. Ainda hoje é um dos filmes que mais marcaram a década de 80, pelo lirismo da história e por apresentar um estilo ao qual Hallström se manteria fiel por anos em seus futuros trabalhos nos Estados Unidos. A percepção que eu tinha da obra, no entanto, era bastante diferente desta minha primeira experiência com o filme propriamente dito. Não é tão triste, e nem de longe é capaz de verter lágrimas em profusão, como me recordo de alguns relatos de minha época de infância.

A história acompanha a pré-adolescência do garoto Ingemar (Anton Glanzelius), que mora com o irmão mais velho e a mãe (Anki Lidén) num vilarejo da Suécia no final dos anos 50. Tuberculosa, ela vive em constante conflito com os filhos, principalmente Ingemar, que lhe dá trabalho e não compreende muito bem para onde sua vida o está conduzindo. Seu melhor amigo é a cadela chamada Sickan, enviada para o canil quando o garoto vai passar a temporada de verão com o tio (Tomas von Brömssen) e a tia, fazendo novos amigos e, em especial, uma amiguinha que gosta de se vestir como menino para poder jogar futebol (Melinda Kinnaman). O desenrolar dos eventos faz com que a mente fértil de Ingemar seja posta à prova com os destinos da mãe, de Sickan e de si mesmo.

De realização simples porém sutil, o filme meio que força um paralelo entre a vida do menino e a vida da cadela que ele tanto ama, ou ao menos demonstra que ama, mais do que o próprio irmão ou a própria mãe. Para ele é muito mais fácil demonstrar carinho pelo animal do que pela mãe doente, por exemplo, algo do qual ele mostra todo o seu arrependimento numa cena tocante diante do tio, decididamente o personagem que mais se transforma graças à presença do garoto em sua vida. Esse é um dos pontos nos quais o filme toca, o da transformação das pessoas à nossa volta graças à nossa presença, quer notemos isso ou não. No início desconfortável com a vindo do menino, o tio logo descobre que tem muitas coisas em comum com o moleque, e termina o filme bem diferente de como começou. Daí a percepção de que, apesar de todos os infortúnios, Ingemar é abençoado com alegria e felicidade.

Assim, é preciso dizer que há mais alegria que tristeza na história. Ou, colocado de outra forma, a quantidade de experiências boas anulam ou mesmo superam os infortúnios. Sozinho, Ingemar sofre para encontrar um novo lar onde se sinta confortável. Mais ou menos como Sickan, cujo destino permanece incerto por muito tempo. Aparte a sua desilusão diante da figura da mãe, Ingemar é querido pelos tios, pelo amigos, e por duas belas garotas, a adulta (Ing-Marie Carlsson) que ele acompanha enquanto ela posa nua para um escultor e a garota Saga, que com ele começa a descobrir a sexualidade. Pode até haver alguma controvérsia nos poucos segundos em que há nudez infantil no filme, mas não consigo enxergá-la desta forma. Muito longe de ser apelativa ou vulgar, a cena se encaixa perfeitamente à narrativa e não fere ninguém, somente aqueles de mente estreita.

No geral, o desenvolvimento da história é um pouco irregular. Mas as menções ao futebol brasileiro (que ganhou seu primeiro troféu mundial em 1958, na Suécia) são bacanas. O descuido com alguns aspectos técnicos incomodam (tratar a tuberculose na época do filme não era assim tão difícil, principalmente na Suécia), e a imaginação do menino e suas constantes lembranças de Laika, a cadela que foi para o espaço e lá morreu, chegam a encher um pouco o saco. Ainda bem que o todo não fica comprometido, pois trata-se de um filme sincero e ótimo de se ver.

O DVD tem como extras somente o trailer do filme e uma biografia curta de Lasse Hallström.

Visto em DVD em 3-NOV-2006, Sexta-feira - Texto postado por Kollision em 9-NOV-2006