Cinema

Em Seu Lugar

Em Seu Lugar
Título original: In Her Shoes
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 130 min.
Gênero: Drama
Diretor: Curtis Hanson (Uma Janela Suspeita, A Mão Que Balança o Berço)
Trilha Sonora: Mark Isham (No Rastro da Bala, Resgate Abaixo de Zero, Dália Negra)
Elenco: Toni Collette, Cameron Diaz, Shirley MacLaine, Mark Feuerstein, Richard Burgi, Anson Mount, Candice Azzara, Brooke Smith, Francine Beers, Jerry Adler, Ken Howard, Nicole Randall Johnson, Eric Balfour, Andy Powers, Jackie Geary, Jill Saunders, Ivana Milicevic
Avaliação: 8

Curtis Hanson pode não ser o maior dos gênios, mas é com certeza um dos cineastas mais consistentes de todos os que estão hoje em atividade nos Estados Unidos. Seus filmes são sempre garantia de entretenimento de qualidade, mesmo que não entreguem a revolução visual/narrativa esperada por alguns que levianamente se apressam em eleger este um "gênio" e aquele um "merda". A qualidade de sua direção transparece neste novo trabalho, capitaneado por mulheres de diferentes gerações em ótima forma.

O relacionamento entre as irmãs Rose (Toni Collette) e Maggie (Cameron Diaz) já não ia bem das pernas. A workaholic, certinha e solitária Rose se vê cada vez mais desgastada pela preguiçosa, folgada e libertina Maggie. Após uma briga feia, as duas se separam de vez e, por uma jogada do destino, Maggie acaba entrando em contato com a avó que nunca chegou a conhecer, Ella Hirsch (Shirley MacLaine). Separadas, as duas irmãs lentamente vêm a perceber que precisam uma da outra mais do que imaginavam, enquanto a avó tenta corrigir alguns erros do passado e recuperar o tempo perdido junto às netas.

Nada poderia ser mais adequado aos créditos de abertura que a canção Stupid Girl do Garbage, um retrato falado da conduta de Maggie, papel que caiu como uma luva para Cameron Diaz. A moça é tão gostosa quanto repugnante em seus modos, uma criança em corpo adulto, e um estorvo na vida da sempre complacente irmã. A personalidade de cada uma fica bastante clara com menos de dez minutos de filme, assim como o rumo que a história vai tomar. O lado bom disso é que Curtis Hanson é extremamente hábil ao preencher sua história com substância, ao invés de situações corriqueiras e clichês, o que acaba rendendo momentos tensos e engraçados, particularmente quando Shirley MacLaine entra em cena na pele da sábia e paciente Ella. Até mesmo a avó chega a aprender algo com a neta mais desmiolada.

Talvez a idéia por trás do filme seja mesmo essa. Que, por mais que as tribulações e a rotina indiquem o contrário, é somente ao lado das pessoas que fazem parte de nossa vida que somos completos, e podemos evoluir completamente. Cada um tem seus medos: o de Rose é a dificuldade em aceitar-se fisicamente como é (o que acaba afetando sobremaneira sua vida amorosa), o de Maggie é o receio constante de que as pessoas percebam sua deficiência educacional (disfarçada como um castelo de cartas por seu sorriso bonito), e o de Ella é a sua relutância em assumir os erros do passado e deixar-se envolver novamente com um colega galanteador. Como não podia deixar de ser, é só sob uma influência mútua que todas chegarão a um final feliz, qualquer que ele seja.

Ao contrário do que a história pinta, Toni Collette é uma atriz muito bonita, além de talentosa. Ela nem é tão gorda quanto os diálogos nos forçam a acreditar (mesmo apesar de ter engordado alguns quilos a pedido do diretor). A maior conquista de Curtis Hanson, no entanto, foi fazer de um drama ordinário e clichezento algo bastante prazeroso de se ver.

Texto postado por Kollision em 6/Janeiro/2006