Cinema

A Conquista da Honra

A Conquista da Honra
Título original: Flags of our Fathers
Ano: 2006
País: Estados Unidos
Duração: 132 min.
Gênero: Guerra
Diretor: Clint Eastwood (Cartas de Iwo Jima, A Troca, Gran Torino)
Trilha Sonora: Clint Eastwood
Elenco: Ryan Phillippe, Adam Beach, Jesse Bradford, Barry Pepper, John Benjamin Hickey, John Slattery, Jamie Bell, Paul Walker, Robert Patrick, Neal McDonough, Melanie Lynskey, Thomas McCarthy, Chris Bauer, Judith Ivey, George Grizzard, Harve Presnell, Mary Beth Peil, David Rasche
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 8

Revisto em DVD em 22-MAR-2008, Sábado

Para um primeiro esforço de Clint Eastwood num gênero antes estranho para ele, A Conquista da Honra é decente. Tecnicamente excelente, a história no entanto não se decide entre um drama intimista e a representação da guerra em sua forma mais crua. Talvez vendo a obra sob o prisma de uma biografia – cujo alcance se estende além do personagem principal e se insere de forma indelével na atual cultura norte-americana – pode-se afinal encontrar uma unidade para o filme, mas é uma pena que o desempenho do elenco (Ryan Phillipe principalmente) não agrade como deveria. Outra observação meio sem importância é que o genérico título brasileiro não faz jus ao material original, podendo conduzir a inúmeras interpretações sobre o cerne dramático da história.

O segundo disco da edição dupla do DVD vem com vários extras que incluem uma introdução de 5 minutos de Clint Eastwood, um making-of de meia hora, dois especiais de 17 e 20 minutos que cobrem a transposição do livro para o filme e os soldados que participaram da foto na vida real, uma breve passagem sobre a reconstituição do momento de obtenção da famosa fotografia, outro featurette de 15 minutos que se concentra sobre os efeitos especiais, um mini-documentário de 10 minutos sobre Iwo Jima feito na época da guerra e o trailer do filme.

Visto no cinema em 12-FEV, Segunda-feira, sala 8 do Unibanco Arteplex em São Paulo - Texto postado por Kollision em 19-FEV-2007

Primeiro capítulo de um projeto duplo que envolve também o outro lado da moeda num dos momentos cruciais da batalha entre Estados Unidos e Japão durante a Segunda Grande Guerra, A Conquista da Honra centra seu drama no conflito pessoal dos três jovens soldados que ganharam notoriedade no final da guerra ao estrelarem uma campanha para arrecadação de fundos para a debilitada indústria bélica dos EUA. O drama, portanto, caminha lado a lado com a guerra propriamente dita, observada através de flashbacks que se alternam em vários momentos do tempo dentro da narrativa entrecortada. O tom é de lembranças, amarga nostalgia e respeito pela memória dos que sacrificaram suas vidas em solo estrangeiro, condensada na imagem de esperança suscitada pela fotografia que serviu de base para toda a história, aquela em que vários soldados erguem uma haste com a bandeira americana no ponto mais alto da ilha de Iwo Jima.

Clint Eastwood se aproveitou da experiência do homem que praticamente criou a estética moderna de realismo nos filmes de guerra: Steven Spielberg, que dirigiu o divisor de águas O Resgate do Soldado Ryan (1998) e aqui ocupa uma das cadeiras de produtor. O olhar de Clint para o martírio dos soldados em Iwo Jima não deve nada ao do padrinho Spielberg. Eastwood ainda agrega a sua característica sensibilidade ao retratar o cotidiano dos rapazes quando estes retornam para casa, que contrasta com o ambiente insólito de um país que não sabe como recebê-los de volta em seu meio sem algum tipo de ruptura tão dolorosa quanto silenciosa. Mesmo trilhando um caminho já trilhado por muitos outros cineastas, e limitada por um nicho temático que à primeira vista soa muito reduzido para um longa de mais de duas horas de duração, a história consegue a profundidade necessária ao concentrar seu foco sobre um personagem com uma visão ampla sobre o campo de batalha, o enfermeiro John "Doc" Bradley, pai do escritor em cujo livro o filme se baseia.

Bradley é encarnado no filme por Ryan Phillippe, um ator que não me pareceu muito adequado para o papel. Até mesmo fisicamente – como fica evidente nas fotos dos créditos finais – Phillippe não era muito parecido com sua contraparte na vida real. Ele falha ao não conseguir transmitir completamente aquela sensação de dor interior esperada de alguém que passa pelo choque que Bradley passou, que no filme é concentrada no momento em que ele encontra o corpo de seu parceiro numa casamata dos inimigos. As seqüências mais tocantes ficam, portanto, reservadas para Adam Beach, ótimo no papel do índio Ira Hayes, um homem transtornado e eternamente afetado por uma glória que ele acreditava ser injusta. O terceiro soldado que se tornou garoto-propaganda é interpretado por Jesse Bradford, e aparentemente foi o que mais se deu bem com a fama, apesar dos fantasmas herdados do campo de batalha.

O restante do elenco é pulverizado dentro dos flashes do passado. Robert Patrick e Paul Walker têm participações pequenas, enquanto Barry Pepper ganha papel de coadjuvante de destaque, sacramentando sua persona de figurinha fácil em longas de guerra (ele esteve tanto em O Resgate do Soldado Ryan quanto em Fomos Heróis).

Cinematicamente, A Conquista da Honra fica dentro do padrão de excelência que tem sido uma constante na carreira recente de Clint Eastwood. As cenas de batalha são de encher os olhos do cinéfilo vidrado em filmes de guerra, que definitivamente possuem uma dimensão à parte na tela grande. O que não permite que o filme seja completo é o epílogo, que se estende por tempo demais ao tentar atribuir um sentido para o título original da obra (algo como "as bandeiras de nossos pais"), e a já mencionada natureza deslocada do protagonista. Porém, o mero fato deste ser um produto de Clint Eastwood, um mestre de ontem e de hoje, qualifica o filme como um programa imperdível para os amantes do gênero. Que, diga-se de passagem, deve ser visto em conjunto com Cartas de Iwo Jima.