Cinema

Um Dia de Fúria

Um Dia de Fúria
Título original: Falling Down
Ano: 1993
País: Estados Unidos, França
Duração: 113 min.
Gênero: Suspense
Diretor: Joel Schumacher (O Cliente, Batman Eternamente, Tempo de Matar)
Trilha Sonora: James Newton Howard (Dave - Presidente por um Dia, O Fugitivo, Alguém para Dividir os Sonhos)
Elenco: Michael Douglas, Robert Duvall, Barbara Hershey, Tuesday Weld, Rachel Ticotin, Frederic Forrest, Lois Smith, Joey Hope Singer, Ebbe Roe Smith, Michael Paul Chan, Raymond J. Barry, D.W. Moffett, Steve Park, Kimberly Scott, Karina Arroyave
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 9

A veia de produtor de Michael Douglas é talvez um de seus melhores talentos, além da sua reconhecida (ainda que não tão unânime) capacidade de atuar. Desde a consagração com a produção de Um Estranho no Ninho (Milos Forman, 1975), Douglas jamais deixou de lado as responsabilidades também por trás das câmeras. Logo, não soa exagerado dizer que uma de suas melhores contribuições para o cinema de entretenimento sério foi "farejar" e recuperar do ostracismo o roteiro de Um Dia de Fúria, que por muito pouco não foi engavetado ou destroçado em alguma produção televisiva que jamais chegaria a ser exibida fora dos EUA. Esperto como ele só, é claro que o cara tratou de ficar também com o papel principal da história.

Toda ela se passa apenas durante um dia. Preso num engarrafamento estúpido numa das áreas mais congestionadas de Los Angeles, o executivo William Foster (Douglas) tem uma espécie de colapso nervoso devido ao calor e ao estresse e abandona seu carro na pista mesmo, levando consigo apenas sua maleta e dizendo que está simplesmente "indo para casa". Sua jornada até lá é um desabafo cruel, cínico e violento, uma catarse urbana que chega a ser engraçada de tão absurda. A única pessoa que parece compreender isso é o detetive Prendergast (Robert Duvall), que vê seu último dia em serviço antes de se aposentar virar de pernas para o ar devido à peregrinação cada vez mais perigosa do executivo pelos bairros pobres e ricos da cidade.

Apesar de soar oportunista e forçado em determinadas passagens, Um Dia de Fúria é um exercício interessantíssimo sobre uma realidade que muitas vezes se torna caótica para quem nela se vê irremediavelmente preso. É preciso acompanhar a história para perceber que William Foster não é assim por acaso, ou seja, sua explosão de revolta não veio simplesmente do nada. Há a família problemática, há o fator profissional, há a revolta contra um sistema que muitas vezes desfavorece seus cidadãos nativos em prol de outrem. Alguma semelhança com o mundo corporativo, com a realidade dos subúrbios, com as sinucas da vida pelas quais muita gente já teve que passar? Não é à toa que a identificação com o personagem principal é garantida. Mas não se enganem, a esperteza do roteiro está em dar as cartas ao espectador para que ele faça seu próprio julgamento a respeito da legitimidade de sua revolta.

Robert Duvall está bastante à vontade em seu papel, que evolui com elegância ao longo da projeção e ganha um extraordinário nível de credibilidade e dignidade, essenciais para a seqüência final do filme. O estilo de fotografia adotado pelo diretor Joel Schumacher parece às vezes querer entrar em ebulição ao retratar o calor insano do verão californiano. Tudo em prol de um de seus melhores trabalhos, num desempenho que só viria a ser repetido no futuro Por um Fio (2002).

Infelizmente, o DVD de Um Dia de Fúria pertence à categoria de transposições digitais sem um extra sequer.

Texto postado por Kollision em 24/Janeiro/2006