Cinema

Eraserhead

Eraserhead
Título original: Eraserhead
Ano: 1977
País: Estados Unidos
Duração: 89 min.
Gênero: Suspense
Diretor: David Lynch (O Homem-Elefante, Duna [1984], Veludo Azul)
Trilha Sonora: David Lynch
Elenco: Jack Nance, Charlotte Stewart, Judith Roberts, Laurel Near, Jeanne Bates, Allen Joseph, Jack Fisk, Jean Lange, Thomas Coulson, John Monez, Darwin Joston, T. Max Graham, Hal Landon Jr., Jennifer Lynch, Brad Keeler, Gill Dennis, Toby Keeler, Jack Walsh
Distribuidora do DVD: Lume Filmes
Avaliação: 7/10

Visto em DVD em 28-SET-2008, Domingo

Na tradição anteriormente estabelecida por Buñuel e num estilo que mais tarde se tornaria inconfundível, Eraserhead é o resultado de anos de masturbação cinematográfica de um David Lynch em início de carreira: um cineasta praticamente virgem, decididamente motivado e ainda não contaminado pelas mazelas do sistema, miserável como o mais pobre dos estudantes de cinema podia ser, e cercado por um time de colaboradores tão fascinado quanto ele por estarem fazendo, finalmente, cinema. O resultado, por sua vez, é de uma aridez tamanha que ele praticamente estupra o espectador com uma vertiginosidade cruel e uma inacessibilidade narrativa que só se torna suportável quando se lança mão de um senso mínimo de abstração.

Pois é, sem abstração nem adianta tentar assistir a este filme. E não é qualquer abstração, já que aqui o surrealismo de Lynch atinge elevados píncaros de impermeabilidade. A verdade, caro leitor, é que se você não é chegado a tais coisas, desista e parta para a próxima comédia romântica da temporada. Ou seja corajoso e embarque na viagem, que envolve um nerd solitário e monossilábico (Jack Nance) que tem uma grande surpresa quando uma ex-namorada o convida para jantar na casa dos pais. Seu penteado lembra uma borracha de lápis escolar, daí o título do filme – e também uma das seqüências de sonho da história. O resto, como 90% das pessoas hão de concordar, é uma série de acontecimentos bizarros, incômodos e angustiantes como poucos vistos numa tela de cinema. Gente solitária e sonhadora costuma se identificar com mais facilidade com o protagonista Henry ou com suas abstrações espaciais, e num cenário tão caótico eu geralmente tenho a tendência de simplificar as coisas. Assim, encaro Eraserhead como um pesadelo, tal qual definiu a mãe de Lynch depois de assistir ao filme do filho. Um trabalho que, obviamente, carrega traços cruzados da personalidade e da psiquê do próprio Lynch.

Tecnicamente, Eraserhead é um primor, e só pelo baque que provoca, independente de qualquer interpretação, já está bem acima da média. Minha vontade era não avaliar o filme com uma nota, pois é impossível absorvê-lo somente com uma sessão.

Uma observação boba, cruzando música e cinema: a canção da moça do radiador × a banda Portishead. Não sei não, mas a cena em que ela canta e "dança" num palco sombrio é a cara do Portishead e do estilo musical, interpretativo e cenográfico de vários de seus videoclipes. Não me espantaria nada se descobrisse que, além do nome de uma cidade, a inspiração para o nome e o estilo da banda tivessem saído diretamente desta passagem em particular.

Há uma extensa entrevista de quase uma hora e meia com David Lynch acompanhando o filme, onde ele relata o básico e o bizarro no longo processo de produção de Eraserhead. Completam o pacote de extras os trailers de Down By Law e Underground.