Cinema

Encarnação do Demônio

Encarnação do Demônio
Título original: Encarnação do Demônio
Ano: 2008
País: Brasil
Duração: 98 min.
Gênero: Terror
Diretor: José Mojica Marins (À Meia-noite Levarei Sua Alma, A Praga)
Trilha Sonora: André Abujamra (Querô), Márcio Nigro
Elenco: José Mojica Marins, Jece Valadão, Rui Resende, Milhem Cortaz, Adriano Stuart, José Celso Martinez Corrêa, Cristina Aché, Helena Ignez, Débora Muniz, Thais Simi, Raymond Castile, Cléo de Páris, Nara Sakarê, Luís Melo, Giulio Lopes, Eduardo Chagas
Distribuidora do DVD: Fox
Avaliação: 2/10

Revisto em DVD em 30-OUT-2009, Sexta-feira

Uma grande piada.

Encarnação do Demônio é uma grande piada. Revendo-o agora é possível notar melhor quão vazia e inútil é esta finalização da "trilogia" imaginada por José Mojica Marins na década de 60. Com exceção do fator mulher pelada e da presença de Jece Valadão (ótimo), tudo nesta obra á praticamente um desastre. Os diálogos são indecentes, a história é um horror, a trilha sonora é um zero e as atuações, principalmente a de Mojica, são atrozes. Um dos produtores ou colaboradores deveria ter tido colhões e falado pro cara que não é assim que se faz bom cinema de horror hoje em dia.

E sabem o que é mais engraçado? É que há um desfile de sósias involuntários no filme! Mário Lima, colaborador habitual de Mojica, poderia muito bem passar como Joe Pesci. E o próprio Zé do Caixão, nos momentos mais histriônicos, não é outro senão Luís Inácio Lula da Silva, em postura e voz. Medo, muito medo.

O DVD vem com uma faixa de comentários conjunta de Mojica e dos produtores Dennison Ramalho e Paulo Sacramento, além de um making-of "oficial" de meia hora, um making-of "experimental" de 13 minutos, 12 minutos de cenas excluídas (comentadas pelo diretor e pelo editor), trailer, informações em texto sobre os demais filmes da trilogia e dois especiais curtos que discorrem sobre os efeitos visuais da cena do purgatório e o uso de storyboards.

Visto no cinema em 6-SET-2008, Sábado, sala Moviecom 1 do Rondon Plaza Shopping

É triste a constatação de que, infelizmente, José Mojica Marins não conseguiu fugir à contaminação de décadas acorrentado a programas de TV de última categoria, aparições em festas de halloween e pagações públicas de mico. Que suas obras clássicas descansem em paz, imaculadas e protegidas por sua eternização em meio digital, porque esse Encarnação do Demônio não faz jus às duas primeiras partes da trilogia de Zé do Caixão (À Meia-noite Levarei Sua Alma e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver).

A maior fraqueza deste terceiro capítulo é, de longe, a interpretação de Mojica. Declamada, teatral demais, completamente fora de compasso com o acabamento profissional de todo o longa. Nos momentos mais ruins, parece que o cara está apresentando o Cine Trash! O elevado nível de nudez feminina, de escatologia e de sangue ajuda a compensar essa falha, mas não consegue – nem de perto – tornar o filme memorável. Não adiantam as lições obviamente aprendidas com Jogos Mortais e O Chamado. O ponto de partida do roteiro é ótimo: após anos encarcerado, o agente funerário psicopata Zé do Caixão é libertado e, com o auxílio de seu fiel ajudante Bruno (Rui Resende), reinicia sua campanha para encontrar a mulher que lhe dará o filho perfeito. Logo ele arranja um séquito de fiéis acólitos, mas em seu encalço aparece um policial caolho e antigo desafeto (Jece Valadão, surpreendentemente a melhor atuação de todo o filme), entre outras figuras histrionicamente caracterizadas (Milhem Cortaz em especial). Infelizmente, a premissa é logo soterrada por absurdos que só poderiam ser relevados se a história ainda se passasse no final da década de 60, enquanto personagens são jogados em cena e somem sem qualquer aviso ou desenvolvimento.

Enfim, assista pelo fator mulher pelada, ou pelo fator de "único filme de horror brasileiro feito em muito tempo". Mas não se engane, o verdadeiro Zé do Caixão está morto desde 1967. E convenhamos... Até no título genérico e frouxo, Encarnação do Demônio empalidece diante dos filmes clássicos.