Cinema

A Doce Vida

A Doce Vida
Título original: La Dolce Vita
Ano: 1960
País: França, Itália
Duração: 167 min.
Gênero: Drama
Diretor: Federico Fellini (8 ½, Amarcord, Satyricon)
Trilha Sonora: Nino Rota (O Poderoso Chefão)
Elenco: Marcello Mastroianni, Anita Ekberg, Anouk Aimée, Yvonne Furneaux, Magali Noël, Alain Cuny, Annibale Ninchi, Walter Santesso, Valeria Ciangottini, Riccardo Garrone, Ida Galli, Audrey McDonald, Polidor, Alain Dijon, Enzo Cerusico, Giulio Paradisi, Enzo Doria, Enrico Glori, Adriana Moneta, Massimo Busetti, Mino Doro, Giulio Girola, Laura Betti, Nico, Domino, Carlo Musto, Lex Barker, Jacques Sernas, Nadia Gray
Distribuidora do DVD: Versátil
Avaliação: 9

Obra máxima dentro da filmografia do diretor italiano Federico Fellini, A Doce Vida é segundo alguns críticos o ponto de inflexão em sua carreira, quando seu estilo atingiu a maturidade e seus filmes passaram a ter características cada vez mais pessoais. Recheado de imagens poderosas numa primorosa fotografia em preto-e-branco, foi alçado à categoria de clássicos inesquecíveis do cinema e firmou o nome de Marcello Mastroianni como o maior ator italiano das décadas de 60 e 70.

O personagem central da história é Marcello (Mastroianni), jornalista que vive imerso na intensa vida social da cidade e se envolve com os ricos, as celebridades e todos os tipos inusitados e extravagantes que fazem parte dessa realidade. Realidade pueril e superficial, repleta de futilidades e carregada de um vazio existencial, com uma miríade de personagens ora caricatos, ora trágicos, que passam a exercer influência cada vez maior em seu modo de encarar a vida.

O filme é longo, e a narrativa é por vezes claramente dividida em capítulos, sendo que alguns deles não têm nenhuma conexão uns com os outros, limitando-se a destilar na tela o absurdo das situações e o modo como Marcello reage a elas. As desventuras do jornalista levam-no a festas estranhas, fenômenos de massa que escancaram a mediocridade da grande massa social e até mesmo às suas próprias raízes. Desde sua bela e ciumenta namorada, passando por seu colega de trabalho fotógrafo, o paparazzo (termo que se tornou sinônimo de fotógrafo de tablóide sensacionalista), até atrizes glamorosas ou decadentes que cruzam seu caminho, todos os personagens encontram seu lugar numa constelação de tipos inesquecíveis.

Apesar do tema propício para tal, o filme não se detém em julgamentos morais como, por exemplo, a conduta libertina de Marcello. Ele vive com a namorada, mas não pensa duas vezes em tentar iniciar algo com a atriz americana de formas exageradamente voluptuosas (Anita Ekberg, em seqüências antológicas) ou passar uma noite com a amante. O relacionamento com a namorada é tenso, explosivo, e no final acaba revelando a verdadeira dimensão dos personagens, que não passam de seres humanos, com suas virtudes e fraquezas, como todos nós. O filme é boêmio e implacável como seu tema, e nós somos os espectadores da rotina desvairada e algo surreal retratada por Fellini através dos olhos do jornalista Marcello. A mensagem que o diretor parece demonstrar é que também não devemos julgar, mas no máximo aprender e evoluir com todas as pessoas ao nosso redor. A seqüência final, apoteótica, é vil e pura ao mesmo tempo, e encerra o filme com uma leveza desconcertante.

O principal extra do DVD duplo é um documentário de 47 min. narrado em alemão sobre o compositor Nino Rota, colaborador de praticamente todos os filmes de Fellini. Há ainda fotos da produção, pôsteres de todos os filmes do diretor, notas contendo críticas da época e declarações de Fellini sobre Marcello Mastroianni e do compositor Nicola Piovani sobre Nino Rota. Há ainda biografias do diretor, do seu ator principal e de Nino Rota, e um resumo interessante dos termos oriundos de filmes de Fellini que são hoje parte do vocabulário italiano e mundial.

Texto postado por Kollision em 24/Julho/2004