Cinema

Delirio Caldo

Delirio Caldo
Título original: Delirio Caldo
Ano: 1972
País: Itália
Duração: 103 min.
Gênero: Suspense
Diretor: Renato Polselli (Riti, Magie Nere e Segrete Orge nel Trecento)
Trilha Sonora: Gianfranco Reverberi
Elenco: Mickey Hargitay, Rita Calderoni, Raul Lovecchio, Tano Cimarosa, Christa Barrymore, Marcello Bonini Olas, Katia Cardinali, William Darni, Stefania Fassio, Cristina Perrier
Distribuidora do DVD: Anchor Bay Entertainment
Avaliação: 7

Com um pé no giallo e outro num tom ousado que caracteriza obras marginais com boas doses de nudez e erotismo, este filme é uma porta de entrada interessante para o gênero slasher de aspecto mais obscuro da década de 70. Assim como muitos outros trabalhos realizados na Itália na mesma época, há a ênfase cênica nos assassinatos, mas a lista de suspeitos de estarem cometendo os crimes aqui é bastante reduzida, o que é incomum em se tratando de giallos. Para compensar, o diretor Renato Poselli dá total vazão à sua visão peculiar da psicopatia, misturando sexo e violência como as bases para os delírios mostrados no filme, mais conhecido em inglês com o título Delirium.

No centro da trama está um médico psiquiatra (Mickey Hargitay) que trabalha para a polícia, levando uma vida dupla ao investigar um caso de brutais assassinatos de jovens mulheres. O assassino é ninguém menos que ele próprio, um maníaco impotente que sofre de dupla personalidade. Sua belíssima esposa (Rita Calderoni) descarrega a frustração com suas fantasias envolvendo tortura e orgias lésbicas com a empregada e a sobrinha. Enquanto a pilha de corpos aumenta, um suspeito enxerido (Tano Cimarosa) arrisca a pele para descobrir o que se passa, e o chefe da investigação (Raul Lovecchio) aos poucos se dá conta de que algo muito errado está acontecendo na casa do colega médico.

Para um trabalho de orçamento reduzido, a caracterização dos personagens principais e da loucura que os consome é surpreendentemente eficiente. A exposição gradual de suas personalidades, em especial da espetacular Rita Calderoni – definitivamente uma das mulheres mais bonitas e desconhecidas do cinema italiano – garante o interesse por uma história meio frouxa e assinala uma interessante inversão de suspeitas lá pela metade do filme. A direção de Polselli mostra-se até inspirada nos momentos que mais interessam, que são os assassinatos, e só desliza um pouco nas cenas filmadas em ambientes confinados. Praticamente todas as cenas de assassinato terminam com tomadas das atrizes seminuas em posição post-mortem, escancarando a demência de natureza sexual do assassino. A certa altura, fica até engraçado o seu dilema diante do desejo de matar e de sua obrigação como médico e policial, mas neste ponto a trama até tenta humanizá-lo um pouco (na versão italiana do filme, o que não ocorre na versão americana, por exemplo).

Tecnicamente, a produção tem defeitos graves. Nota-se duas ou três falhas absurdas de edição, que podem estar associadas tanto à transposição forçada da loucura de um dos personagens quanto aos inúmeros cortes e versões que o filme ganhou na pós-produção. O nível de atuação do elenco varia consideravelmente, e parece que deixaram a raspa do tacho no orçamento para conseguir os apetrechos de sadomasoquismo empregados pelo médico maluco. Fuçando sua caixa secreta, por exemplo, a esposa se depara com o que parece ser uma roldana (!), e até agora não consegui entender o que é aquilo que o cara usa na cena do quarto, que parece um bastão com alguma coisa na ponta.

No entanto, a combinação de suspense, torturas e sexo do filme é interessante, sem chegar a insultar ninguém com isso. O que é resultado de uma mescla acertada de ousadia, senso estético e considerável sorte na escolha do elenco. Refiro-me especialmente a Rita Calderoni pois, sem ela, a nota do filme seria consideravelmente menor.

Além de um especial de quase 15 minutos com entrevistas atuais do diretor Renato Polselli e de Mickey Hargitay, o DVD da Anchor Bay traz duas versões para o filme: a italiana (com áudio em italiano e legendas em inglês) e a americana (com 20 minutos a menos de duração e áudio em inglês). A versão americana chega a ser um longa-metragem completamente diferente de sua contra-parte italiana. Conceitualmente, ela difere completamente graças ao prólogo e ao epílogo, que envolvem o fato do personagem principal ter sua neurose originada durante a guerra do Vietnam. Várias passagens violentas ou sensuais ganham ou perdem cenas, o tratamento dado às personalidades dos envolvidos é diferenciado, o final muda de uma versão para outra e há até mesmo uma importante personagem a mais na trama americana. Dica: para quem gostou da beleza de Rita Calderoni, o capítulo 9 da versão americana é imperdível – se é que vocês me entendem.

Visto em DVD em 16-DEZ-2006, Sábado - Texto postado por Kollision em 20-DEZ-2006