Cinema

Calígula

Calígula
Título original: Caligula
Ano: 1979
País: Estados Unidos, Itália
Duração: 156 min.
Gênero: Drama
Diretor: Tinto Brass (Todas as Mulheres Fazem, O Voyeur, Monella - A Travessa)
Trilha Sonora: Bruno Nicolai (Eugénie, Drácula contra Frankenstein)
Elenco: Malcolm McDowell, Teresa Ann Savoy, Helen Mirren, Peter O'Toole, John Gielgud, John Steiner, Guido Mannari, Paolo Bonacelli, Leopoldo Trieste, Giancarlo Badessi, Mirella D'Angelo, Anneka Di Lorenzo, Lori Wagner, Adriana Asti, Bruno Brive, Paula Mitchell, Donato Placido
Distribuidora do DVD: Europa Filmes
Avaliação: 6

Um guia empoeirado de DVD e Vídeo que tenho em casa dá uma descrição sucinta e objetiva para este filme: "a 15$ million porno flick with big stars" (um pastichê pornô de 15 milhões de dólares com grandes astros). No final das contas, de qualquer lado que se olhe, não dá para fugir desta afirmação. Algo que, por um lado mais extremo, não deixa de ser positivo.

Em nenhum outro filme, por melhor ou pior que seja, irá a platéia encontrar uma representação mais fiel da decadência do império romano do início da era moderna. Decadência, no caso, é sinônimo de ausência quase total de valores, enaltecimento errático do sexo em todas as suas formas, poder absoluto do estado e nenhum senso de escrúpulo por parte de quem o detém. Calígula, o imperador, incorporou tudo isso em seu curto reinado de três ou quatro anos. E a decadência, no filme de Tinto Brass, vem embrulhada e disfarçada de obra de arte graças aos suntuosos valores de produção, à qualidade artística de seu elenco principal e ao compromisso de não se deter diante de qualquer tipo de tabu, o que era uma inegável realidade na sociedade romana da época retratada pelo filme.

Brass fôra selecionado pelos produtores (gente graúda da revista hardcore Penthouse) pelo que havia mostrado em seu filme anterior Salon Kitty. Como era de se esperar, rusgas surgiram não somente entre ele e o roteirista Gore Vidal, mas também em relação ao produtor Bob Guccione. Diz-se que Guccione trancou Tinto Brass fora da sala de edição, bagunçou todo o processo de montagem e inseriu seqüências explícitas de sua autoria dentro do filme, que segundo Vidal já estava completamente "deturpado" em relação à sua concepção original. Tanto Brass quanto Gore Vidal renegam o filme até hoje, muito embora trate-se da obra de maior sucesso na carreira de ambos (a concepção não creditada do roteiro de Ben-Hur a Gore Vidal não conta). Tinto Brass pode muito bem ter se revoltado nos anos que se seguiram ao lançamento do filme, mas rendeu-se definitivamente ao cinema erótico anos mais tarde, e hoje em dia se concentra exclusivamente neste gênero em particular.

Deixando o blá-blá-blá de lado, a verdade é que Calígula é um filme para adultos, com muita nudez explícita, sexo explícito, incesto, perversão, violência, homossexualismo. O desejo que o filme tem de ser fiel à devassidão romana é ao mesmo tempo a causa do choque de muitos diante de várias das cenas polêmicas mostradas em suas duas horas e meia de duração. Apesar da visível falta de inspiração do diretor de um modo geral, as cenas explícitas são em sua grande maioria justificadas, ou seja, não há desvios abusivos da linha narrativa para a sacanagem livre que sempre quebra o ritmo em porcarias de cunho pornográfico. A única que se destaca neste sentido (a transa lésbica de duas capas da Penthouse) corresponde à maior parte do material filmado e dirigido por Bob Guccione, e nem chega a comprometer o andamento do filme.

E dá para adiantar ao menos isso: nenhum dos nomes famosos do elenco se entrega à putaria. Nem adianta ter esperança, o grau de pele à mostra é inversamente proporcional à fama do artista. Por isso Teresa Ann Savoy é sempre mostrada como veio ao mundo, e Helen Mirren aparece à distância e na penumbra. Tanto Peter O'Toole quando John Gielgud declararam nem mesmo saber que seqüências de sexo explícito estavam sendo filmadas enquanto declamavam suas falas diante das câmeras. Malcolm McDowell vai um pouco além no papel-título, consolidando sua fama de ator marginal conseguida primariamente com o sucesso de Laranja Mecânica (Stanley Kubrick, 1971).

O DVD do filme vem com um making-of da época de quase uma hora com entrevistas de praticamente todos os envolvidos na produção, muitas delas justificando a natureza devassa do longa.

Visto em DVD em 26-AGO-2006, Sábado - Texto postado por Kollision em 29-AGO-2006