Cinema

Babel

Babel
Título original: Babel
Ano: 2006
País: Estados Unidos, França, México
Duração: 142 min.
Gênero: Drama
Diretor: Alejandro González Iñárritu (Biutiful,  Birdman ou (a Inesperada Virtude da Ignorância),  O Regresso)
Trilha Sonora: Gustavo Santaolalla (Diários de Motocicleta, O Segredo de Brokeback Mountain)
Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchett, Adriana Barraza, Rinko Kikuchi, Gael García Bernal, Kôji Yakusho, Boubker Ait El Caid, Said Tarchani, Elle Fanning, Nathan Gamble, Clifton Collins Jr., Jamie McBride, Michael Peņa, Mohamed Akhzam, Mustapha Rachidi
Avaliação: 6

Há uma força dramática irrepreensível em mais este filme de fragmentos de Alejandro González Iņárritu, um cineasta que cultiva um estilo bastante peculiar de direção. Não contente em contar uma única história, ele volta a entrelaçar crônicas distintas numa trama que nem chega a ter muito de quebra-cabeças. O ponto forte de Babel está na intensidade com que tudo é vivido por seus personagens, que infelizmente vai um pouco além do que deveria e dá um peso anormal ao filme, amplificando falsamente e mascarando a previsibilidade dos dramas mostrados. Tudo é muito bem-feito e as atuações são excelentes mas, devido à exacerbação dramática sem respaldo narrativo, o resultado final não corresponde à expectativa.

Em viagem através do deserto do Marrocos, marido (Brad Pitt) e mulher (Cate Blanchett) americanos estão numa espécie de crise conjugal relacionada à perda recente de um filho. Quando ela é baleada dentro do ônibus no qual viajam, o pânico se instala porque eles estão perdidos numa paisagem erma, sem entender nada da língua local e sem qualquer infra-estrutura de auxílio. Perto dali, um pai de família compra um rifle e deixa-o a cargo dos dois filhos pastores, para que eles cuidem dos chacais que ameaçam o rebanho da família. Nos Estados Unidos, uma empregada (Adriana Barraza) decide contrariar a ordem dos patrões durante sua ausência e leva as duas crianças sob sua responsabilidade consigo para o casamento do filho, no México, em companhia de um sobrinho estourado (Gael García Bernal). E, no Japão, pai preocupado (Kôji Yakusho) não consegue entender a rebeldia da filha surdo-muda (Rinko Kikuchi), que sofre com os impulsos hormonais decorrentes da descoberta da sexualidade.

Os destinos e as vidas de todos os personagens mencionados acima estão conectados, em maior ou menor grau. O quanto cada conexão é relevante para o desenvolvimento de todo o filme é o ponto crucial do porquê de Babel não atingir todo o seu potencial. Algumas sub-tramas somente resvalam uma na outra, com base apenas num fio condutor básico usado para justificar a presença de diferentes linhas narrativas dentro do mesmo filme. As ligações, portanto, caem na categoria de gratuitas e diminuem o impacto do todo, além de exigirem exposições que prolongam inutilmente a duração da película. O que afeta também a montagem entrecortada, que vai e vem na ordem dos acontecimentos e altera seu posicionamento dentro do roteiro filmado.

Para as implicações que o título do filme suscita, a história fornece material em profusão para discussões intermináveis. A dificuldade de comunicação entre os seres humanos é um problema grave para aqueles que já falam a mesma língua. O que dizer, então, de quem está num país estranho e mal sabe dizer um "bom dia" ou "socorro" no idioma local? O desespero demonstrado pelo personagem de Brad Pitt chega a nos fazer pensar duas vezes antes de visitar um país sem ao menos ler um mini-dicionário da língua local. O homem é, para todos os efeitos, uma criatura despreparada para sobreviver fora de seu ambiente, e isso é parte do que o longa de Iņárritu deixa transparecer. Outras constatações ficam por conta das limitações hierárquicas e sociais (evidentes na situação da imigrante que arrisca tudo para ver o filho se casar), dos aspectos culturais intrínsecos de um povo e da barreira intransponível relacionada a uma condição física irreversível (no drama da adolescente que é impelida a se conectar a alguém do sexo oposto mas não consegue).

A internacionalidade de Babel reflete-se na escalação do elenco, que realmente merece todas as homenagens que a obra possa angariar. Todo mundo – com exceção talvez de Gael García Bernal, num papel falso e antipático – dá o sangue pela história, mesmo nas menores participações. A trilha sonora de Gustavo Santaolalla é, por vezes, opressivamente primorosa. As câmeras de Iņárritu capturam as cenas com a urgência e o ar documental que fazem jus à estética do diretor, mas algumas passagens em particular pecam pela duração excessiva. A espetacular cena de encerramento tenta reverter um pouco a situação de constante tensão, mas é uma pena que tal recurso não seja usado com mais freqüência. Afinal, é no silêncio e na ausência de palavras que acontece muito da comunicação que realmente importa.

Visto no cinema em 4-FEV, Domingo, sala 7 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 10-FEV-2007